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Gil pronto para tomar trono de Émerson
Domingo, 08 Outubro de 2000, 01h15

São Paulo - Depois de enfrentar ruas alagadas em Miami e ouvir descrições das primeiras enchentes da primavera, em São Paulo, Gil de Ferran comentou, rindo, na sexta-feira: "Está na hora de trocar de carro; vou comprar uma arca, igual à de Noé, porque o dilúvio está chegando." Amanhã, o piloto viaja para Surfer's Paradise, na Austrália, com esperança de pista seca no próximo domingo. Gil, de 32 anos, poderá tornar-se o segundo brasileiro - o primeiro foi Émerson Fittipaldi, pela Patrick, em 1989 - a vencer um campeonato da Fórmula Indy.

Líder da temporada com 153 pontos, 19 a mais do que o canadense Paul Tracy, com 22 de vantagem sobre Roberto Moreno e a 26 de Michael Andretti, Gil será o campeão se aumentar a diferença para 23 pontos em relação ao adversário mais próximo. Nesse caso, ele ganharia o título por antecipação, independentemente do resultado nas 500 Milhas de Fontana, última prova do ano, no dia 29.

Em maio, ao vencer a corrida no oval de Nazareth, Gil deu à Penske sua centésima vitória na história da Indy. Com mais uma vitória de Gil, em Portland, e três de Hélio Castro Neves, a Penske soma 104, 90 delas sob a organização da Cart - Championship Auto Racing Teams -, estabelecida em 79.

Equipe vencedora, a Penske decaiu na segunda metade da década de 90, depois de vencer o campeonato de 94 com Al Unser Jr. No fim de 99, Roger Penske fez uma mudança radical na equipe: trocou Al Unser Jr. por Gil de Ferran e Hélio Castro Neves, o motor Mercedes por um Honda e desistiu de construir o próprio chassi, comprando um Reynard. Resultado: a Penske foi a equipe que mais venceu em 2000 (cinco corridas), seguida pela Chip Ganassi (quatro, tetracampeã da Indy. Gil, com contrato já assinado com a Penske para 2001, está pronto para seu maior desafio nas pistas.

Estado - A Penske voltou à sua melhor fase?

Gil de Ferran - Acho que ainda vai melhorar mais. Mas a possibilidade de conquistar o título já indica uma grande evolução.

Estado - A possibilidade de tornar-se campeão da Indy aumenta a responsabilidade no final do campeonato?

Gil - Aumenta e, por isso, não quero pensar no assunto. Estou concentrado em acelerar, frear, saber como estará o carro, essas coisas. Tenho de ficar focado só nisso. Mas é impossível ignorar que poderei, este mês, realizar o meu grande sonho profissional no automobilismo esportivo.

Estado - É claro que você tentará vencer o campeonato por antecipação, na Austrália.

Gil - Para isso terei de sair para o ataque desde o primeiro treino oficial. Como em Houston e circuitos de rua em geral, Surfer's Paradise não é fácil para fazer ultrapassagens, embora seja uma boa pista. Largar na frente é importante.

Estado - O jogo de equipe será mantido?

Gil - O Helinho vai me ajudar no que for possível. Em Houston, ele não teve muito o que fazer. Dependendo da circunstância da corrida, o Roger Penske e o Tim Cindric (presidente da equipe) podem ordenar uma determinada tática.

Estado - Ao contrário da Fórmula 1, em que a Ferrari fez jogo de equipe desde o início da temporada, na Indy as equipes não se preocupam com isso.

Gil - A explicação é simples. As corridas da F-1, hoje, são mais previsíveis, com apenas duas equipes de ponta. Além disso, a F-1 não tem um complicador, como as bandeiras amarelas. Com tantas possibilidades, é muito difícil preparar uma tática prévia na F-Indy. Na F-1 é mais fácil. São só quatro carros com chance - basta pisar no acelerador até o fim da corrida.

Estado - Qual a característica mais importante de Surfer's Paradise?

Gil - A pista tem boa largura. Mas o mais importante é a variedade de curvas. Sempre andei bem lá.

Estado - Desde que começou a trabalhar na Penske, você tem afirmado que é a melhor equipe de trabalho que já conheceu. Por que ela ficou cinco anos longe da briga pelo título?

Gil - Bem, eu não estava lá antes. Mas, pelo que pude acompanhar, foi uma série de problemas que aconteceram ao mesmo tempo. O piloto já não estava motivado, o desenvolvimetno do chassi não acompanhou a evolução dos demais, a Mercedes já não estava investindo da mesma forma, etc. Por isso, o Roger mudou tudo.

Estado - A dupla brasileira deu certo na Penske. É por isso que a Newman Haas também deverá ter uma dupla brasileira em 2001, com Christian Fittipaldi e Cristiano da Matta?

Gil - Os americanos não raciocinam dessa forma. Acho que isso está acontecendo por o Cristiano ser a melhor opção que eles tinham para substituir o Michael Andretti.

Estado - A Indy vai encerrar o ano com 20 corridas. Além do cansaço, a Penske enfrenta a tensão do título.

Gil - Todo mundo está esgotado, mas a motivação faz com que ninguém pare. Nem com ataque cardíaco. O problema é o esforço para relaxar. É cada vez maior.

O Estado de S. Paulo


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