Maracaibo (Venezuela) -
Aos 29 anos, Euller, apelidado de Filho do Vento, estava desiludido com a Seleção Brasileira. O atacante havia confidenciado à sua mulher Letícia que não tinha a mínima esperança de ser convocado. Começando a pensar no final da carreira, ele só tratava de se adaptar ao Vasco de Romário e se preparar para a chegada do seu primeiro filho. A empresa Rhumell havia encerrado o seu patrocínio de chuteiras e não o procurou para renovar.
Com a esposa e os calendários das partidas do Vasco, Euller chegou à conclusão de que a melhor data para o nascimento de Gabriel seria hoje.
Afinal, o Vasco folgaria e ele poderia acompanhar o parto. Mas bastaram cinco partidas pelo clube de Eurico Miranda para mudar sua vida.
"Tomei o maior susto quando fui convocado. Já tinha perdido as ilusões. No ano passado, joguei bem demais no Palmeiras e nada de convocações. Estava pronto só para me dedicar ao Vasco e ao meu filho. Com a minha primeira convocação tive de pedir para os médicos adiarem o parto. Falei com a Letícia e ela vai segurar o Gabriel até segunda-feira. Quero ver o meu filho nascer, espero que minha mulher agüente esperar."
Ele será a surpresa brasileira. "O Euller é um grande jogador, mas ainda não teve chances na Seleção. Os venezuelanos não vão esperar um atacante tão rápido e eficiente nos cruzamentos como ele", aposta Candinho.
Euller acredita que Romário tem grande parte de responsabilidade em sua convocação. "Ele tem uma presença de área fora do comum. O Romário prova na área o quanto é importante haver alguém com velocidade e habilidade para buscar a linha de fundo e cruzar para ele marcar. Eu me encaixo perfeitamente nesse papel. É como se, de alguma maneira, eu resgatasse a importância dos pontas no futebol brasileiro. Os venezuelanos que não me conhecem terão uma surpresa", aposta, sorridente.
O jogador lembra que muita gente falou que seu estilo estava acabado para o futebol dos clubes grandes no Brasil. "Tenho que reconhecer que uma pessoa visionária foi o Luiz Felipe Scolari. Ele conversou comigo e me fez entender o quanto minha velocidade poderia ser útil ao time. E me ensinou a jogar dos dois lados. Não sou mais aquele ponta-direito fixo. Sou ponta tanto direita como esquerda."
Euller é muito grato a Scolari. "Rompi os ligamentos cruzados do joelho esquerdo quando estava no Verdy, do Japão. Minha recuperação levou oito meses. O Luiz Felipe mandou renovar meu contrato quando não havia certeza se eu voltaria a jogar plenamente. Está aí a resposta para quem não acreditava em mim."
Fazer dessa convocação a primeira que vai levá-lo até a Copa do Mundo é o objetivo de Euller. "Tenho certeza de que vamos enfrentar uma equipe fechada e com preocupação em marcar. A diferença técnica entre a Venezuela e o Brasil é enorme. Mas quero mostrar minha importância. Estou chegando para ficar."
Euller garantiu que fará um gol hoje. "Primeiro vou ajudar meus companheiros a marcar. Mas o Romário que me desculpe, pois vou querer fazer o meu para meu filho Gabriel." Apesar do calor de 33 graus esperado em Maracaibo, Euller vestirá uma camiseta embaixo do uniforme dando boas-vindas ao filho.