Suzuka, Japão - Os boxes da Ferrari neste domingo em Suzuka, depois da corrida, lembravam tudo, menos os boxes de uma equipe de Fórmula 1. Por exemplo: em alguns momentos transformaram-se em salão de barbeiros, já que alguns integrantes da equipe tiveram seus cabelos raspados pelos colegas. Luca Baldisseri, engenheiro de Schumacher, foi um deles. "Eu não queria, mas não tive como escapar", disse.
Pino D´Agostini, responsável pelos motores da Ferrari, um senhor de bigode e careca, era o mais agitado.
Deu banho de champanhe em quase todo mundo, cantava o hino da Itália e liderou algumas ações contra alguns personagens dessa história.
Jean Todt foi recebido nos boxes com seu nome sendo cantado em coro.
Alguém sugere que cortem também seus cabelos, mas logo é orientado a desistir da idéia. Rubens Barrichello foi lançado aos ar várias vezes, como quando venceu na Alemanha, ao som de "Rubinho, Rubinho." Já no chão, meio tonto, o brasileiro disse: "Os caras estão loucos."
Suas palavras são interrompidas pelo som de "Campione, campione." Os jornalistas tinham de estar atentos para não terem de escrever até tarde na sala de imprensa molhados com champanhe e vinho.
Essas bebidas cruzavam o ar com freqüência assustadora.
Dentre os vários nomes que eram cantados em coro, como "Schumacher, Schumacher", surgia vez por outra o de "Ferrari, Ferrari." De repente chega Michael Schumacher e todos querem tocar no ídolo, para quem trabalham.
Mas, em meio a empurrões dos fotógrafos, pessoas da própria Ferrari, penetras e até gente de outros times, voava de tudo: pedaços de salame, presunto, pão, o que estivesse à mão.
Um atirava no outro, numa festa tipo pastelão. Schumacher cumprimentou e abraçou demoradamente cada um dos que trabalham para sua escuderia.
A foto de toda a equipe em frente ao seu box foi um dos acontecimentos mais concorridos da história da Fórmula 1, afinal 21 anos estavam sendo desafogados naquele cena. Dezenas de fotógrafos disputavam cada centímetro para registrar aquele momento. Anoitecia já em Suzuka e a chuva, embora leve, não deixava de cair.
Na arquibancada em frente ao boxes, parecia que a corrida ainda não começara, tal a quantidade de pessoas presente. Enquanto a foto era produzida, buzinas de ar e todo tipo de ruído que podia ser obtido do outro lado da pista enlouqueciam ainda mais o grupo da Ferrari. Um dos mecânicos vem com a informação de que em Maranello, sede da equipe, e em toda a Itália (domingo de manhã na Europa), as manifestações de comemoração se sucedem.
Muitos dos integrantes da Ferrari choravam, mas com discrição. No meio da desordenada celebração estavam o mais jovem integrante da equipe, Massimo Bataglini, de 21 anos, ajudante de cozinheiro, e Giuseppe Valpedra, 55, único remanescente da época no último título, em 1979, com Jody Scheckter, responsável pela área de eletrônica.
Quando a bagunça acalmou, todos sentaram para comer. Ao menos naquele momento, não houve bolo algum, mas o mais importante alimento para os italianos: uma bela pasta. O insubstituível Salvatore Belgiovine preparou um penne al sugo para todos. Na Ferrari é assim, vitórias são comemoradas comendo macarrão. A esta altura já circulava a informação de que mais tarde, naquela noite, haveria uma grande festa na área de videokê do hotel do circuito.
São pequenas casas de madeiras pré-montadas, construídas uma ao lado da outra, em meio a um jardim. Dentro, grupos de pessoas se reúnem para cantar e beber. Beber mais do que cantar. Assim foi a festa da Ferrari, 21 anos depois.