São Paulo - Poderia ser um título de uma fábula. "De como roubar mangas fez alguém parar no Mundial de Atletismo". Alexon dos Santos, 18 anos, é um dos 15 atletas brasileiros que começaram ontem a competir no Mundial Juvenil, em Santiago, no Chile. Amazonense, já é o segundo melhor do País no lançamento do dardo, prova sem nenhuma tradição no Brasil.
Nascido em Manacapuru, distante meia hora de barco, mais 80 quilômetros de carro de Manaus, Alexon conta que começou a pegar jeito para a prova quando era garoto e passava o tempo livre atirando pedras na mangueira do vizinho para roubar as frutas ou criando competições com amigos para ver quem atirava pedras mais longe no rio que corta a cidade.
O esporte só foi parar na sua vida há dois anos. Depois de ser afastado do time de vôlei do colégio, Alexon foi fazer testes no atletismo, a pedido de um dos professores de Educação Física. "Queriam que eu corresse, mas eu não quis pois tenho as pernas muito finas. Aí, a professora pediu para eu arremessar uma pelota", lembra. Na primeira tentativa, em um campo de futebol de areia, lançou o peso de 300 gramas a mais de 50 metros de distância. Assustada, a professora ligou para os técnicos do Centro de Treinamento de Alto Nível de Manaus, que chamaram Alexon para um teste.
No primeiro contato que teve com um dardo, fez um lançamento de 45 metros e foi chamado para morar e treinar no Centro. Neste ano, já ficou em terceiro lugar no Troféu Brasil (adultos), com 67,18 m, conseguindo o índice para participar do Mundial Juvenil.
Não é a primeira vez que sai do País para competir. No ano passado, foi o melhor brasileiro no Mundial de Menores na Polônia, quando ficou em 10º lugar. No início do ano, um dos técnicos cubanos que trabalham no Centro de Manaus gostou do rendimento do garoto e o levou para um estágio de três meses de treinamento em Havana. "Aprendi muito da parte técnica em Cuba", diz ele, que pretende agora fazer um estágio na Finlândia, terra de alguns dos maiores atletas da prova.
`Pescando' resultados - Amazonas teve dois dos três primeiros colocados do lançamento do dardo no último Troféu Brasil. "Acho que aprenderam isso pescando pirarucu com arpão nos rios", diz Luiz de Souza Borges, presidente da Federação Amazonense de Atletismo, brincando com o estilo de pesca praticado pelos índios da região. Borges acha que Alexon precisa de apoio para disputar competições internacionais e aprimorar sua técnica. "Ele é um nome certo para estar na Olimpíada de Atenas/2004. Só precisa ser bem trabalhado."
O dirigente comemora os resultados de Alexon como os primeiros frutos do trabalho no Centro de Treinamento de Alto Nível de Manaus, bancado por uma parceria do Governo do Estado e da Confederação Sul-Americana de Atletismo.
O projeto já ajuda mais de 250 atletas, boa parte deles do interior do Amazonas. "Tem um garoto de 15 anos que faz dardo que vai ser um fenômeno", diz, referindo-se a um atleta descoberto em Maués, distante 18 horas de barco da capital amazonense.