Brasília - Apesar de alguns avanços na sua primeira sessão, a CPI da Nike já começou sob suspeita. Mais do que a ligação de uma parcela expressiva dos deputados com clubes, federações e CBF, já se sabe que a campanha de alguns foi financiada por essas entidades, as mesmas que serão investigadas pela mesma CPI.
O deputado Eurico Miranda (PPB-RJ) recebeu uma doação de R$ 50 mil por parte da entidade para a campanha de sua reeleição, em 1998. O dirigente do Vasco teve mais de 100 mil votos e garantiu sua permanência na Câmara. Hoje, Eurico é um dos vice-presidentes da CPI da Nike.
Eurico, a princípio, disse ontem que não saber quem contribuiu para a sua campanha. Primeiro afirmou que não tinha recebido da entidade. Mas o cheque emitido pela CBF em seu nome, de número 40488, do Bradesco, é datado de 16 de setembro de 1998. A quantia doada pela entidade representou quase a metade dos custos oficiais de campanha do dirigente vascaíno, no total de R$ 124 mil.
Eurico acabou admitindo que poderia haver dinheiro da CBF na sua prestação de contas. "Se estiver declarado lá, então é porque tem, mas ninguém tem nada com isso", esbravejou. "Qual o problema de a CBF colaborar para a minha campanha?"
Com a vantagem de conhecer melhor o assunto do que a maioria dos deputados, Eurico jogou de camisa dez ontem, na CPI. Centralizou todas as questões, convenceu os deputados do PT a retirar dois pedidos de requerimento e adiou a aprovação do pedido de cópia dos contratos de alguns clubes com multinacionais.
Entre estes está o Vasco, que tem parceria com o Nations Bank. Apesar disso, a CPI avançou. Em sete dias, a CBF terá de apresentar todos os contratos realizados nos últimos cinco anos. Também terá de apresentar seus resultados financeiros nesse período. Mas Eurico mostrou que vai incomodar.
Os dados fornecidos pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Rio mostram ainda que Reinaldo Pitta e Alexandre Martins, empresários de Ronaldo e de alguns jogadores do Vasco, também colaboraram com a campanha de Eurico: cada um doou R$ 15 mil.
O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS),confirmou que recebeu ajuda da CBF para a sua campanha. A contribuição teria sido de R$ 100 mil, mas Perondi não vê nada demais nisso. "A lei permite e eu me sinto à vontade para atuar na CPI", afirmou.