São Paulo - O empresário Wagner Ribeiro afirmou ontem ao Estado que, há três meses, um advogado português lhe pediu US$ 25 mil para falsificar o passaporte do centroavante França, do São Paulo. Os passaportes falsos também estão na mira da CPI do futebol no Senado. Wagner é procurador do jogador, que na época estava sendo negociado com a Fiorentina, da Itália.
A venda acabou não saindo, mas Wagner diz que recusou a oferta. "É uma coisa ilícita, com a qual nunca concordei", ressaltou. Ele não lembra do nome do advogado, com quem conversou por telefone, mas conta que o esquema inclui também um funcionário do Ministério da Imigração. "Eles arrumam um parente falso e alguém, no ministério, assina embaixo", explicou Ribeiro.
De acordo com ele, um passaporte normal custa US$ 300,00 e pode demorar até cinco meses para ser emitido. Isso porque o candidato tem de comprovar parentesco com um cidadão do país. "Mas nesse esquema de falsificação, eles me prometeram para 15 dias", disse o empresário.
No caso de França, essa seria a única saída, porque o jogador não tem parentes em Portugal. "Como o sobrenome dele é Silva, acho que não seria difícil falsificar o passaporte", diz Ribeiro. "Eles arrumam qualquer coincidência e acabam comprovando o parentesco."
A existência dos passaportes falsos (ver reportagem nesta página) levou o presidente da CPI do futebol, senador Álvaro Dias (PSDB-PR), a ligar ontem para Portugal. "A polícia portuguesa está investigando uma rede de falsários, que libera passaportes, e estamos atrás de um dossiê que eles têm sobre o assunto", informou Dias.
Segundo o senador, o comércio de passaportes em Portugal está inflacionado.
"Parece que existe uma tabela proporcional ao valor da venda do jogador, mas fui informado de que um documento falso pode custar até US$ 300 mil", espantou-se o presidente da CPI.
As informações que o presidente da CPI conseguir em Portugal serão cruzadas com os dados já solicitados à CBF sobre a venda de jogadores para o exterior. O assunto também está na pauta da CPI da Nike, na Câmara. "Assim que tivermos dados suficientes, vamos investigar o caso desses passaportes", adianta o relator da CPI, deputado Silvio Torres (PSDB-SP).
A desconfiança é de que haja um grande esquema de dirigentes e empresários ganhando comissões em cima de operações irregulares e à revelia do Banco Central.
"Mais de US$ 100 milhões deixaram de ser declarados ao BC", diz Álvaro Dias. A falsificação dos passaportes seria apenas a última etapa.