São Paulo - Além do vexame de perder para os argentinos a chance de disputar uma medalha olímpica em Sydney, os jogadores do vôlei brasileiro vão perder a chance de lucrar alto. Segundo os dois procuradores que controlam as carreiras de quase todos os atletas do País, o ouro faria com que os jogadores voltassem a ganhar salários milionários como da temporada 1994/95, quando a Confederação Brasileira de Vôlei repatriou os campeões olímpicos de Barcelona/92 que jogavam na Itália.
"Uma final olímpica contra a Itália teria sido perfeita. Passariam a ter valorização muito maior aqui e na Itália, que ainda é o maior mercado mundial", diz Jorge Assef, empresário de mais de 50 atletas, como Giba, Max e Maurício.
Quem mais vai lucrar com o final da Olimpíada são os iugoslavos, que bateram a Itália na semifinal e conquistaram o ouro vencendo a Rússia. Seus salários no vôlei italiano devem decolar. O levantador Nikola Grbic, melhor jogador da sua seleção, ganha pouco mais de US$ 150 mil por temporada na Sisley Treviso, da primeira divisão. Para os padrões do vôlei mundial, é pouco dinheiro. O levantador Ricardinho, terceiro na posição da seleção brasileira, ganha praticamente o mesmo no Vasco/Três Corações.
No mapa do dinheiro do vôlei mundial, a Itália ainda paga os melhores salários. O Brasil vem em segundo lugar. O Japão paga ótimos salários para cinco ou seis jogadores, como o atacante espanhol Rafael Pascual e o brasileiro Gílson. Nos últimos anos, os mercados da Grécia e da Turquia vem crescendo.
O auge dos salários no vôlei brasileiro foi quando a CBV, com o apoio do Banco do Brasil, repatriou os campeões olímpicos da Itália. Os ganhos de Giovane, Tande, Marcelo Negrão e Maurício beiravam os US$ 400 mil por temporada. Entre 1997/98, a crise cambial que afetou a economia do País se somou à falta de resultados internacionais da seleção.
Na última temporada, os salários voltaram a subir um pouco com o Vasco, que inflacionou o mercado. Minas, Suzano, Ulbra, Banespa e Unisul mantiveram altos investimentos. Hoje, os mais bem pagos do vôlei nacional são Giba, Max e Kid, que chegam a US$ 230 mil (R$ 450 mil) por ano.
Apesar do sexto lugar na Olimpíada, vários brasileiros devem receber propostas da Itália. Os russos, vice-campeões mundiais, já atuam por lá e são muito bem pagos. Os cubanos foram proibidos de jogar no exterior por seus dirigentes. Só sobrariam brasileiros e argentinos para serem contratados. E o caminho seria mais aberto se orçamentos no Brasil forem reduzidos.
"Não duvido. Todo patrocinador quer saber de visibilidade na mídia, o que vai diminuir com a campanha de Sydney", diz Rogério Teruo, empresário de mais de 50 jogadores brasileiros e outros 50 estrangeiros. "Ou a CBV coloca um técnico forte para o vôlei voltar a ter conquistas internacionais ou a situação vai piorar."
Os mais assediados pelos italianos devem ser Giba e Dante. Giba chegou a assinar um pré-contrato no meio do ano, mas voltou atrás e ficou no Minas. Dante teve proposta para jogar a fase final da Liga Italiana/99 pelo Maccerata, que havia perdido o holandês Schuil por contusão. Não foi porque o contrato era muito curto e por causa do técnico Radamés Lattari, que queria o jogador na preparação da seleção para a Olimpíada.
Pelo destaque que teve na Liga Mundial e na Olimpíada, Dante é o jogador brasileiro com o salário mais defasado da atualidade. Ganha pouco mais de R$ 150 mil por ano no Fenabb/Zipnet/Suzano, salário acertado antes de sua participação na seleção.
No feminino, a medalha de bronze olímpica em Sydney deve manter o nível de investimentos das equipes brasileiras, alcançando seu pico: as levantadoras Fernanda Venturini e Fofão são as atletas mais bem pagas, incluindo o vôlei masculino. Ganham mais de R$ 500 mil por temporada.