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Empresas brasileiras têm preconceito com paraolímpicos
Quinta-feira, 26 Outubro de 2000, 02h40

Sydney - Unir a imagem da empresa aos paraolímpicos ainda é questão de muito preconceito. A conclusão óbvia de que ao participar de um projeto paraolímpico - ou que envolva inclusão ou melhoria da qualidade de vida de pessoas com deficiência física - agrega simpatia à imagem de uma empresa, pelo menos no Brasil não passa da mais pura ingenuidade. Enquanto isso, nesta quarta-feira, em Sydney, a brasileira Adria Santos - que já havia vencido os 100 m - foi prata nos 400 m (59s46).

Os marqueteiros das companhias brasileiras, ao contrário do que acontece no exterior (onde não só o movimento paraolímpico como tudo o que o envolve em termos financeiros cresce), ainda resistem à idéia de associar a imagem de suas companhias com pessoas que precisam de aparelhos para ir de lá para cá.

Mesmo que essas pessoas sejam vencedoras em competições paraolímpicas mundiais e que, ao contrário dos consagrados atletas "normais", tragam medalhas para o Brasil.

Enquanto na cidade australiana há um movimento latente no sentido de trazer novamente a Paraolimpíada para cá, com o objetivo de transformar a cidade em referência mundial, o Comitê Paraolímpico Brasileiro teve dificuldades imensas para conseguir recursos para seu chamado "ano paraolímpico", que além destes Jogos inclui o Pan-Americano e os Jogos Paraolímpicos Desportivos - competições que garantem índices para a Paraolimpíada.

Renato Naegle é diretor de comunicação e marketing do Banco do Brasil, um dos parceiros do Comitê Paraolímpico Brasileiro. Segundo ele, o banco despejou R$ 1,7 milhão no "projeto paraolímpico". Dinheiro que, somado à verba destinada pelo Indesp (Instituto de Desenvolvimento do Desporto), garantiu a realização de todas as competições e a participação brasileira nos Jogos.

É negócio A visão do BB, no entanto, não é ecumênica nem donativa. "Deixamos bem claro ao Comitê, que nossa participação seria negocial e objetiva. Não trabalharíamos com eventos pontuais, mas com projetos. Somos um banco e, nesse caso, queremos agregar qualidade à nossa imagem e vigor aos nossos negócios. Temos no Brasil, 17 milhões de deficientes físicos. Esse é o número oficial, devemos ter mais. Como cada um envolve o cuidado e a atenção de mais gente na família, estamos falando de algo em torno de 40 milhões de pessoas. É um público que nos interessa", diz Naegle. "Nosso primeiro objetivo é investir nas pessoas, depois nos atletas. Essa idéia de superação, de valentia e entusiasmo que caracteriza os atletas paraolímpicos nos agrada muito, faz bem ao banco."

Em 2000, o Banco do Brasil investiu R$ 15,5 milhões do dinheiro dos seus clientes no esporte (vôlei masculino, feminino - praia e quadra - mais Guga, além dos paraolímpicos). Para o ano que vem a estimativa é de investimentos de R$ 20 milhões. O acordo para continuar apoiando os paraolímpicos até Atenas/2000 está praticamente fechado, embora o Comitê vá mudar de presidência agora.

Jane West, diretora de comunicações do Comitê Paraolímpico de Sydney, exibe orgulhosa os números desta Paraolimpíada/2000: jamais tantos bilhetes foram vendidos, mais de 1 milhão - e os jogos ainda não terminaram. Os organizadores arrecadaram mais de 20 milhões de dólares australianos (equivalente um por um ao real brasileiro).

Somado ao valor agregado à imagem da Austrália e de Sydney especificamente, nenhum marqueteiro pode calcular o valor.

João Batista Carvalho e Silva, presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, no entanto, não tem visão assim tão otimista. Segundo ele, praticamente todos os esforços para conseguir novos parceiros para o tal "ano paraolímpico" fracassaram. Até o CD com a música tema da delegação brasileira, gravado pela dupla Chitãozinho & Xororó, saiu atrasado. "As gravadoras ficaram me enrolando, me jogando de um lado para outro. No fim, o disco saiu tarde, o clip também e pouca gente viu. O mercado fonográfico brasileiro se mostrou muito unido nisso", ironiza.

Batista, que está deixando o cargo após dois mandatos, tem informações de que o acordo para garantir Atenas/2004 será assinado no sábado. No seu país, ele vê o futuro do patrocínio para as modalidades paraolímpicas como complicado. "Até empresas de assistência médica, planos de saúde, vêem com restrição associar a sua imagem à dos deficientes físicos."



Jornal da Tarde

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