Brasília - A CPI de Nike deve quebrar nesta quarta-feira o sigilo bancário do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, e o do dono da Traffic, José Hawilla. "É o modo mais rápido de esclarecer o contrato entre a CBF e a Nike", justificou o relator da comissão, deputado Silvio Torres (PSDB-SP). A empresa Traffic é parceira da CBF.
A quebra do sigilo, diz o deputado, era "mais do que imaginável". A assessoria de Ricardo Teixeira não quis pronunciar-se, prefere esperar a confirmação do "consenso" que o relator garante ter sido costurado em reunião de mais de cinco horas ontem. Os deputados peemedebistas ligados à CBF e integrantes da comissão, Darcísio Perondi (RS), Henrique Alves (RN) e Nelo Rodolfo (SP) tentaram evitar a medida.
Já a CPI do Futebol, no Senado, desafiou o presidente da Fifa, Josph Blatter, a explicar por que teme a apuração de irregularidades no futebol. "Qual é o temor dele de a Câmara e o Senado passarem o futebol a limpo?", questionou o senador Maguito Vilela (PMDB-GO), autor da proposta do convite a Blatter depois de ele ter ameaçado tirar o Brasil da próxima Copa.
Os senadores também querem punição do vice-presidente da CPI da Nike e vice-presidente do Vasco, deputado Eurico Miranda (PPB-RJ), por denegrir a imagem do Senado. Em entrevista à jornalista Marília Gabriela, da RedeTV, o deputado teria dado "declarações ofensivas ao Senado e à honra dos senadores". O relator da CPI do Futebol, Geraldo Althoff (PFL-SC), contou que ele disse que não deporá no Senado e que o presidente da comissão, senador Álvaro Dias (PSDB-PR) tinha grave problema sexual.
Nesta terça-feira, Eurico voltou a afirmar que não vai depor ao Senado nem a pedido de sua mãe e voltou a atacar Dias. Ele garantiu que Eurico irá a CPI e espera ser desnecessário o uso de um recurso extremo de solicitar a polícia para garantir o cumprimento da convocação, mecanismo conhecido por "depor sob vara".
A CPI do Senado ouviu nesta terça-feira o primeiro depoimento, o do chefe do Departamento de Combate à Ilícitos Financeiros (Decif), Ricardo Liao. Ele contou que o BC rastreará a venda de 1.800 jogadores a clubes estrangeiros, nos últimos dois anos, para verificar se houve sonegação de cobertura cambial nestas transferências.
Liao informou que o BC já abriu 22 processos contra 22 clubes para apurar evasão cambial envolvendo a soma de US$ 42,5 milhões (R$ 81,1 milhões), referentes a transferências ocorridas antes da vigência da Lei Pelé, em 1998. "Nas nossas contas faltou remessa do pagamento de atletas nesse valor", afirmou Liao, que detalhou as informações quando a sessão virou secreta.
Entre as irregularidades, estão situações de operações ilegítimas como a venda do jogador por empresa nacional para o exterior sem o pagamento em moeda estrangeira. Identificou-se também a compensação privada de crédito, ou seja, o clube comprou um jogador italiano e transferiu um atleta brasileiro como forma de pagamento. A CPI pedirá ao BC e à CBF todos os contratos dessas transações de venda.
Os senadores vão convocar a presidente do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Adrienne de Senna, que denunciou ao Ministério Público 5.208 operações suspeitas envolvendo R$ 5 milhões entre agosto de 1999 e outubro deste ano entre elas mais de mil foram feitas por bingos. Também convocará o ex-advogado do jogador Bebeto e ex-conselheiro do Vasco, Levi Lafetá. A comissão também que o BC repasse todos os processos em tramitação na instituição envolvendo a Traffic.