São Paulo - Mais do que afastar os torcedores, o atual momento do futebol brasileiro vem provocando descontentamento também entre aqueles que apostaram alto no esporte. É o caso da Globo Esportes, responsável pela negociação dos contratos de transmissões esportivas da TV Globo.
De acordo com o diretor da empresa, Marcelo Campos Pinto, a emissora pagou ao Clube dos 13 US$ 70 milhões para ter o direito de exibir os jogos da Copa João Havelange. "Estamos pagando muito pelo retorno que a competição tem dado", afirmou o empresário, ressaltando que o investimento total da emissora no esporte em 2000 chega a US$ 200 milhões. "O futebol fica com 85%."
A mais nova estratégia da Globo para tentar reverter o fracasso dos índices de audiência do futebol é dividir os direitos de transmissão com outras emissoras. A mais cotada no momento é a Rede TV. A idéia da cúpula global é levar ao ar as partidas mais importantes e repassar as demais. Espera-se, com isso, diluir os pontos de Ibope do SBT e da Record.
Segundo Pinto, a expectativa com relação à audiência do campeonato era 50% maior do que a registrada atualmente, sobretudo nas quartas-feiras à noite. A intenção era manter médias de 30 pontos, a exemplo do que ocorreu em anos anteriores. "No entanto, nossa média está em 20", revelou. O presidente do Clube dos 13, Fábio Koff, foi enfático em sua resposta. "O problema é deles", disse recentemente, numa reunião em São Paulo.
O diretor da Globo Esportes rechaçou qualquer insinuação de que a Globo estivesse interferindo exageradamente no futebol, principalmente no calendário. Ele informou que tudo o que a emissora pediu durante as negociações do contrato com o Clube dos 13 foi a exibição de dois jogos por semana. Pinto admitiu, porém, que foram promovidas alterações na grade de programação nas noites de quarta-feira.
Mas o que motivou a mudança não teria sido a minissérie “Aquarela do Brasil”. "Resolvemos não exibir futebol porque os jogos dessas rodadas não eram atrativos e, assim, não justificavam o sacrifício da minissérie", explicou.
Pinto disse acreditar que os horários definidos pela televisão não podem ser culpados pela ausência de público nos estádios. Para ele, o grande problema do futebol brasileiro é o exagerado número de competições. "Como temos muitos jogos, o produto (futebol) acaba sendo desvalorizado", afirmou. "Além disso, o dinheiro investido pelas emissoras justifica esses horários."
O dono da Traffic, J. Hawilla, concorda. "A TV é importante e apenas faz o papel dela. A culpa é dos dirigentes de clubes, que submetem-se passivamente às essas exigências", sentenciou.
Concorrência - A força e o apelo popular das partidas de futebol não estão incomodando a direção do SBT, principal rival das transmissões futebolísticas da Bandeirantes e, sobretudo, da Globo. "Nós torcemos para que eles (Globo) passem jogos, pois estamos vencendo sempre na audiência", garantiu o diretor de Programação da emissora, Mauro Lissoni. Para ele, a entrada do SBT nas transmissões futebolísticas não é sequer cogitada. "Os custos para ter os direitos são muito altos", explicou. "Além disso, do jeito que está o futebol hoje, de graça seria caro", cutucou.
Na esteira de Lissoni está o coordenador de Esportes da Rede Record, Eduardo Zebini, que exime a televisão da responsabilidade pelo fiasco de público do atual campeonato (só para lembrar, o clássico Corinthians e Palmeiras, disputado no dia 16 de agosto, levou cerca de 2 mil torcedores ao Morumbi).
Ao mesmo tempo, descarrega sobre os ombros dos dirigentes esportivos a culpa pelo problema. "Se for uma competição bem organizada e com credibilidade, o torcedor vai, independentemente do horário", afirmou.