São Paulo - Alberto Dualib e Mustafá Contursi são amigos. Um não critica o outro, coisa rara na vida de dirigentes de futebol. Comandam o destino de dois dos maiores clubes do País. Dualib está sofrendo com o seu Corinthians. Contursi ri com o seu Palmeiras. Os dois fecharam a primeira fase da Copa João Havelange em posições bem distintas: o Corinthians humilhado e acumulando prejuízo considerável, o Palmeiras entre os 12 melhores e esbanjando lucros.
A diferença entre Dualib e Contursi nem é a histórica rivalidade dos times.
De origem árabe, os dois se distinguem pela administração de seus clubes.
Dualib assinou contrato de dez anos com a Hicks Muse. Nos dois primeiros anos de parceria, sucesso absoluto. Agora, quer adotar a política de contenção de despesas do rival.
Contursi conviveu oito anos com a mais sólida parceria entre um clube e uma empresa. Com a Parmalat vieram os títulos e os lucros. O casamento acabou e esperava-se a decadência do Palmeiras. Não foi o que se viu. Contursi se antecipou à crise. De janeiro a junho, desfez-se de dois times - os "desmanches" -, temeridade para a torcida e lição de austeridade aos outros dirigentes.
Mustafá liquidou um elenco de estrelas, com o aval da Parmalat, e amealhou quase R$ 16 milhões como porcentagem nas vendas. E estabeleceu um teto de R$ 30 mil nos salários. A folha caiu de R$ 1,8 mi para R$ 600 mil.
"Na situação econômica que o Brasil está vivendo é possível fazer futebol com salários de jogadores a R$ 100 mil? É normal ou estamos todos loucos, vivendo uma realidade que não é nossa?"
Essa foi a questão que Contursi colocou no dia em que assinou um pré-contrato com a ISL, em setembro. Naquele mês, o Palmeiras vinha sendo humilhado. O Corinthians dava sinais do naufrágio.
Enquanto Contursi gastava ninharia com Turra, Magrão, Taddei, Juninho, Flávio e outros menos cotados, o rival queimava milhares de reais com Djair, Rogério, Müller, André, Pereira, Scheidt, todos de reconhecida notoriedade e altos salários.
Na balança dos investimentos, o prato do Corinthians tinha peso de R$ 18 milhões em contratações e mais R$ 2 milhões de salários. O prato do Palmeiras não pesava R$ 3 milhões em contratações e R$ 600 mil de salários.
Primeira conquista - O prejuízo estava alto no Parque São Jorge. No Parque Antártica, euforia com os primeiros lucros de um time barato. Os cofres de Contursi engordaram em julho, quando o Palmeiras faturou a Copa dos Campeões no Nordeste. A conquista garantiu o direito de disputar a Libertadores de 2001 e um prêmio de R$ 2,5 milhões. O Corinthians teria de buscar a vaga na Libertadores vencendo a João Havelange.
Os dois rivais entraram na Copa JH e receberam algo próximo de R$ 9 milhões cada um do Clube dos 13. Os dois também entraram na Mercosul. Na primeira fase, cada um recebeu R$ 900 mil da Conmebol. O Corinthians foi eliminado. O Palmeiras já avançou às semifinais faturando R$ 2 milhões.
Somando as cotas da JH e Mercosul, o Palmeiras acumula R$ 12 milhões e ainda contabilizou R$ 2,5 milhões com a Copa dos Campeões. Total: R$ 14,5 milhões.
O Corinthians, R$ 9,9 milhões. A diferença é que Contursi garantiu, com os R$ 14,5 milhões, quase dois anos da folha. Dualib queimou os R$ 9,9 milhões em quatro meses com os salários do elenco milionário. Na metade da travessia, ainda gastou bom dinheiro com a troca de Oswaldo Alvarez por Candinho.
Seu amigo Contursi apostou no econômico Marco Aurélio e pode conseguir mais um punhado de reais: conquistando a Mercosul, leva mais R$ 5 milhões.
Nas alamedas do Parque Antártica garantem que o Palmeiras tem R$ 50 milhões para o futuro. O Corinthians arrecadou R$ 40 milhões com as vendas de Vampeta e Edílson. Metade foi usada para cobrir os furos no orçamento, segundo avalia a Hicks. E R$ 18 milhões em contratações para a Copa JH.
O time de Contursi continua em campo. O de Dualib entrou de férias ontem. Os jogadores receberão o 13º e as férias. As despesas devem saltar para R$ 6 milhões. Receita? Apenas em 2001.