Rio - O depoimento do ex-técnico da Seleção
Brasileira Zagallo à CPI da Câmara, que investiga supostas irregularidades
no contrato entre a CBF e a Nike, foi marcado por momentos tensos, em que o
treinador chegou a discutir aos gritos com alguns deputados.
A discussão
começou quando o presidente da CPI, deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP),
afirmou que Zagallo teria enviado uma carta à Câmara, no dia 1 de março de
1999, solicitando que a CPI não fosse instalada. “ Recebemos uma carta no auge da criação da CPI e na minha
interpretação a única função daquela carta era tentar impedir a
abertura da comissão”, afirmou Rebelo.
Zagallo rebateu as acusações aos gritos, negando que tivesse
assinado a carta. “Eu tenho moral para confirmar tudo aquilo que fiz, pois minha vida
é limpa. Quero ver quem aqui tem moral para mostrar esta carta. Minha vida é
aberta.”.
A atitude do treinador revoltou os parlamentares, que exigiram
respeito para com a CPI. “Quero dizer que quem for convocado para esta CPI será respeitado,
pode até ser um bandido. Agora, também queremos respeito. Não vamos aceitar
receber gritos de Zagallo ou de qualquer outra pessoa. Pode ser até a madre
Teresa de Calcutá, que vamos exigir respeito”, afirmou o deputado Eduardo
Campos (PSB-PE).
Depois de mandar buscar a carta em seu gabinete, Rebelo leu uma
declaração assinada por Zagallo, dando conta que a Nike jamais tinha
influenciado na escalação da Seleção Brasileira enquanto ele era treinador.
A declaração foi anexada num relatório entregue pela CBF à Câmara, que
segundo os deputados, pedia que a CPI não fosse instalada. Uma declaração de
Wanderley Luxemburgo, igual a de Zagallo, também estava junto com o
relatório da CBF.
Zagallo confirmou que assinou a declaração, mas que em nenhum
momento ele pediu para que a CPI não fosse instalada. “Assinei a declaração e volto a dizer que nunca sofri influência da
Nike para escalar qualquer jogador. Agora, não admito que digam que eu pedi
para a CPI não ser instalada. Sou favorável à CPI, não só no futebol, mas em
tudo o que há de errado no país”, afirmou Zagallo, garantindo desconhecer o
contrato entre a CBF e a Nike.
Perguntado se ao assinar esta declaração, ele teria sido usado pelo
presidente da CBF, Ricardo Teixeira, o treinador negou. “Nunca fui usado pelo presidente Ricardo Teixeira. Muito pelo
contrário. Sou grato por ele ter me dado a oportunidade de ser tetracampeão
em 1994 e vice-campeão em 1998”, afirmou Zagallo.