Brasília - A "caixa preta" dos contratos de jogadores de futebol entre clubes nacionais e do exterior está prestes a ser aberta. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) encaminhou nesta sexta-feira à CPI do Senado a relação das transações ocorridas nos últimos 11 anos. Os documentos, que encheram oito caixas, informam ainda sobre os contratos de transmissão de jogos e sobre os contratos de patrocínio, entre os quais está o que foi feito com a multinacional Nike.
A CBF também atendeu aos pedidos da CPI da Câmara. Além do contrato Nike, os deputados poderão examinar as listas de todos os atletas convocados para a seleção brasileira nos últimos quatro anos e sobre os demonstrativos contábeis que originaram a receita da entidade nos últimos cinco anos.
Para o relator da CPI do Senado, Geraldo Althoff (PFL-SP), o acesso à esses documentos é "mais de meio caminho andado nas investigações". O otimismo do relator é justificado. Dados que poderiam ser desperdiçados numa investigação comum, crescem de importância numa comissão que dispõe de poderes para quebrar todos os tipo de sigilo. Dessa forma, o valor de um contrato pode ser verificado em questões de dias, com a abertura das contas do clube. "Se a venda de um passe foi feita por US$ 6 milhões, esse dinheiro tem de aparecer na contabilidade do clube", explicou Althoff.
Se o dinheiro for menor do que o anunciado, fica provado que houve lavagem. Se o valor nem mesmo figurar nos extratos emitidos pelo Banco Central, fica claro que houve uma evasão de divisas. O relator da CPI lembrou que ainda não foi requerida a quebra do sigilo bancário e fiscal dos clubes de futebol "por razões estratégicas". Quer dizer que a comissão quer antes relacionar os valores dos contratos para dispor do que é chamado de "motivo determinante" da abertura de contas.
Os documentos saíram da sede da entidade, no Rio de Janeiro, transportados por uma kombi e não por um caminhão, como havia dito a assessoria da CBF. A chegada ao Congresso - agora, num veículo Tempra - foi discreta, aos cuidados do assessor da entidade, Vandembergue Machado. O recibo de entrega foi assinado no Senado pelo secretário da comissão, Will de Moura Wanderley. Na Câmara, a entrega foi feita ao presidente da CPI da Nike, deputado Aldo Rebello (PCdoB-SP), e ao deputado Rosinha (PT-PR).
Rebello recebeu os dados antes do prazo de 72 horas que havia fixado para que o presidente da CBF lhe encaminhasse as alterações que foram feitas no contrato com a Nike. Ele tomou essa decisão ao constatar que no contrato inicialmente encaminhado à CPI não constavam essas mudanças.