São Paulo - A falta de incentivo e a desorganização no futebol brasileiro estão fazendo com que a modalidade feminina, quarta colocada nas olimpíadas de Atlanta e de Sydney, esteja em processo de extinção no País. Clubes tradicionais como São Paulo, Corinthians e Santos acabaram com a categoria.
O Vasco continua pagando os salários das jogadoras, mas não disputa nenhuma competição até dezembro. Com isso, craques como Sissi, Pretinha, Roseli e Andréia abandonaram o Brasil para jogar na Liga Norte-Americana. Cátia Cilene, ex-São Paulo, é outra que vai para os Estados Unidos. A média de salários dos clubes norte-americanos é de US$ 10 mil.
Aos 33 anos, Sissi, considerada a melhor jogadora do Brasil, está se transferindo para o São Francisco, onde terá Cátia como companheira. A jogadora afirma não ter partido pelo dinheiro. "Vou porque sinto prazer em jogar. Aqui, estou apenas treinando." A atleta diz que está muito chateada com a atual situação do futebol. "Está no fundo do poço e fico triste por ver times de estrutura, caso do São Paulo, fecharem as portas." E faz um apelo. "Peço que os dirigentes voltem a organizar a categoria, porque nós, jogadoras, não temos força para reverter este quadro. Se o futebol feminino traz poucos lucros, por outro lado, não dá muitas despesas."
A jogadora , assim como Roseli, Andréia e Pretinha, que atuarão no Washington -, tem contrato com o Vasco e continua recebendo seu salário, mas só treina.
Com poucas competições e sem patrocínio, das grandes equipes, apenas Portuguesa e Palmeiras continuam disputando o Paulistana 2000.
A equipe do Canindé, vice-campeã do torneio e atual detentora do título brasileiro, é a favorita - a Lusa reforçou seu elenco, contratando três jogadoras do Vasco, Simone, Bárbara e Jacqueline. Até agora, disputou oito jogos e venceu todos, sete por goleada. Seu técnico, Wilson Riça, o Wilsinho, é o preferido para assumir o comando da seleção.
Seu elenco, formado por jogadoras jovens, a maioria revelada no Canindé, tem uma folha de pagamento estimada em R$ 30 mil e conta com sete atletas com boas chances de serem convocadas para a seleção: Daniela Alves, Graziella, Deva, Priscila, Marisa, Nildinha e Simone. O destaque é a artilheira Graziella, de 20 anos, com 17 gols. Apesar de formar um time forte, a média de idade é de apenas 19 anos. Somente três atletas têm mais de 23 anos.
Wilsinho dedica o sucesso da Lusa às jovens jogadoras, que, segundo ele, mesmo não sendo atletas consagradas, têm gana de vencer. "Isso prova que o trabalho sério é compensado. Em três anos de existência, a Portuguesa chegou a decisão de todas as competições que participou."
O técnico faz uma acusação. "Se o futebol feminino está falido, isto deve ser atribuído a alguns dirigentes, que não distribuem a verba destinada ao esporte amador de forma correta." Sugere a criação de escolinhas de futebol feminino para salvar a modalidade e não concorda com clubes que montam times apenas para "aparecer". "A modalidade é séria e deve ser trabalhada com profissionalismo", reclama.
"Não tenho nada contra os outros clubes, mas é uma vergonha ter jogadoras que não conseguem dominar a bola." Outro motivo para a queda do futebol feminino, segundo Wilsinho, foi o fato de a seleção não ter conquistado a medalha olímpica.
Corte - O principal motivo de o São Paulo, clube mais tradicional do futebol feminino, ter acabado com a modalidade foi a redução da cota destinada pela Federação Paulista, de R$ 20 mil para R$ 10 mil. Suas jogadoras foram transferidas para o Palestra, de São Bernardo.