São Paulo - O boxe brasileiro tem um campeão mundial, o superpena Acelino "Popó" de Freitas, da Organização Mundial de Boxe, a OMB, e um lutador entre os dez primeiros da Associação Mundial de Boxe, a AMB, o leve Edson "Xuxa" Nascimento, em décimo lugar, perdido no meio de muitos mexicanos, argentinos, colombianos e venezuelanos.
Pugilistas brasileiros não freqüentam os rankings das entidades mais importantes - Conselho Mundial de Boxe, o CMB, e a AMB. Xuxa, há cinco anos aguardando a chance de disputar um título, analisa: "O boxe brasileiro não tem treinadores competentes, não tem empresários de peso e não tem tevê. E o Popó, em vez de lutar contra bons adversários e promover o boxe, está se enganando com os rivais fracos que derruba."
Quem manda O presidente da AMB é o venezuelano Gilberto Mendoza (o ranking de novembro da entidade inclui oito venezuelanos, mas conta ainda com 14 mexicanos, oito argentinos, seis colombianos e um surpreendente número de 13 tailandeses).
O presidente do CMB é o mexicano José Sulaiman. O ranking de outubro da versão mais respeitada do boxe internacional conta com 34 mexicanos (oito só na categoria dos galos). Mas tem ainda sete tailandeses, quatro argentinos, três colombianos e nenhum brasileiro.
"Nossos raros empresários não têm força nas entidades internacionais. Eu, que sou do CMB, tenho mais trânsito na AMB do que eles", diz Newton Campos, vice-presidente vitalício do CMB e presidente da Federação Paulista de Pugilismo.
Amador é melhor Para Newton, o Brasil tem um bom número de lutadores amadores - cerca de 800 em São Paulo e mais 200 no resto do Brasil - e é capaz de produzir lutadores em condições de chegar aos rankings internacionais, "mas ficam parados quando se profissionalizam porque não temos grandes promoções de boxe".
Em compensação, as lutas amadoras no Baby Barioni em São Paulo estão cada vez mais concorridas. O número de concorrentes obrigou a FPP a passar de uma para duas noitadas por semana, às terças e quintas-feiras. "No amador não temos do que reclamar", diz Newton.
O dirigente lembra que países como Argentina e México têm mais tradição no boxe. A Argentina já teve 24 campeões mundiais, sendo 19 oficiais e cinco de outras entidades, como a OMB. O México passa de 70 campeões.
Além dos erros cometidos por organizadores que chegaram a trazer lutadores estrangeiros com nomes falsos para competir no Brasil, Newton Campos faz justiça a Abraão Katznelson. "Ele foi o nosso grande promotor. Em 1962, na unificação do título dos galos entre Eder Jofre eo inglês Johnny Calder, ele colocou 20 mil pessoas no Ibirapuera." Éder ganhou por nocaute no décimo assalto. Newton lembra que era uma boa época para o boxe onde o Brasil ainda contava com pugilistas do calibre dos médios Fernando Barreto e Abrão de Souza e do leve Sebastião Nascimento.
Atrás do título Xuxa tem contrato com Don King e não luta há quatro meses. Invicto, com 41 vitórias (35 por nocaute), o lutador vai treinar agora nos Estados Unidos com Al Bonani, da equipe de Don King. Seu manager no Brasil, Mauro Katznelson, filho de Abraão Katznelson, acena com duas possibilidades de desafio do título mundial: a primeira, mais fácil, contra Arthur Grigorian, campeão da OMB. A segunda, mais remota, contra o japonês Takanori Hatakeyama, da AMB.
"Sem televisão, sem patrocinadores interessados, eu faço o que posso", diz Mauro.
Ele também tenta arrumar combates e promover o galo Jairo Moura, campeão brasileiro, cujo maior mérito é ter derrotado Acelino "Popó" Freitas como amador.
Newton Campos, Xuxa e Katznelson concordam em um ponto: Popó não está contribuindo para o boxe brasileiro. "Ele está enfrentado lutadores ridículos. Agora em 16 de dezembro (em Sheffield, Inglaterra), parece que o novo adversário será o norte-americano Lewis Wood, de 35 anos, que tem apenas oito vitórias por nocaute. Não vai acrescentar nada", diz Newton. "Se ele fizesse lutas contra bons lutadores aqui, seria um estímulo para todo mundo", comenta Mauro. "Se até quem não é do boxe acha os adversários dele fracos, imagine o que nós, que estamos por dentro do esporte, achamos dos lutadores que ele tem enfrentado", ridiculariza Xuxa.