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Hawilla diz que Traffic pode perder dinheiro com a seleção
Quinta-feira, 07 Dezembro de 2000, 16h10
Atualizada: Quinta-feira, 07 Dezembro de 2000, 16h10

Rio - Presidente da Traffic, o empresário José Hawilla, depôs nesta quinta-feira por cerca de quatro horas e meia na CPI do Senado, que apura as supostas irregularidades no contrato entre a CBF e a Nike. A empresa detém os direitos de TV, rádio, Internet e publicidade estática nos estádios em jogos da Seleção Brasileira e por este contrato teria recebido US$ 160 milhões (R$ 315 milhões) referentes às Eliminatórias para as Copas de 2002 e 2006.

Após o depoimento, os senadores se disseram satisfeitos com as respostas dadas pelo empresário, mas colocarão em votação a quebra de seu sigilo telefônico e do presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Já a quebra do sigilo bancário da Nike e da entidade que comanda o futebol brasileiro foi aprovada.

O empresário revelou que a Traffic intermediou para a CBF o contrato com a Nike, que teve início em 1994 e acabará em 2010, por cerca de US$ 200 milhões (R$ 394 milhões). J. Hawilla deixou os senadores espantados ao revelar ainda que os contratos são prorrogáveis automaticamente até 2014.

Estes valores dos contratos da Traffic com a CBF intrigaram os senadores. De 1994 a 1997, a empresa pagou à CBF apenas R$ 250 mil, por ano, para ter todo o direito de comercialização e merchandising das marcas CBF e Seleção Brasileira, além de poder transmitir para o exterior os jogos, e ainda comercializar as placas publicitárias dos estádios de futebol. De 1998 a 2002, este mesmo contrato foi reajustado para R$ 500 mil ao ano.

Com valores tão baixos para tantos direitos, o relator da comissão, senador Geraldo Althorf (PFL-SC), questionou se J. Hawilla não achava que a CBF teria feito um contrato desvantajoso com a Traffic. “Não acredito. Ao contrário, pois é um contrato muito bom”.

De acordo com ele, na realidade, a empresa só lucra na venda das placas, porque as marcas Seleção Brasileira e CBF não têm valor comercial. Para espanto dos senadores, o empresário afirmou que vai perder dinheiro, já que o contrato só compensa porque é importante institucionalmente para a Traffic ter uma seleção de peso em seu rol de contratados. Apesar disto, a partir de 2003 a empresa vai pagar à CBF US$ 900 mil por jogo da Seleção transmitido. J. Hawilla justificou essa enorme contradição, dizendo que, em 2003, a seleção estará mais visível por conta da Copa de 2002.

J. Hawilla, que assinou o mesmo termo do ex-técnico da Seleção Brasileira, Wanderley Luxemburgo, de só falar a verdade na CPI, começou o seu depoimento anunciando que estava disposto a abrir o seu sigilo fiscal e bancário com o intuito de colaborar com os trabalhos do colegiado. Ele também explicou que a empresa não se limita a atuar em função da Seleção Brasileira, tendo produzido e transmitido 305 jogos neste ano para mais de 100 países, dos quais apenas nove foram da Seleção.

“Espero que esta oportunidade sirva para esclarecer algumas denúncias levantadas no futebol brasileiro. Em 1980, a Traffic era uma empresa que fazia publicidade em pontos de ônibus, mas hoje é uma das cinco maiores empresas de marketing esportivo do mundo”, afirmou ele.

A principal suspeita da CPI é que a Traffic tenha sonegado impostos. J. Hawilla disse que em julho de 99 vendeu 49% das ações de sua empresa para a Hicks Muse Tate & Furst (HMTF), parceira do Corinthians. “A Traffic recebeu por esta venda 81 milhões e 225 mil reais que foram depositados na minha conta. Todos os impostos foram pagos”.

Sobre a associação da Traffic com a empresa argentina Torneos e Competencias, que acabou dando origem a T&T, J. Hawilla se defendeu, dizendo ser normal ter conta nas Ilhas Cayman, conhecido paraíso fiscal.

“Isto facilita na declaração de receita e no pagamento de despesas, além de ser muito comum a empresas do mundo inteiro”, afirmou, acrescentando que tem contas no Brasil, nos Estados Unidos, na Argentina e na Suíça, mas nas Ilhas Cayman.

O empresário acabou defendendo o ex-técnico da Seleção Brasileira Wanderley Luxemburgo, que em seu depoimento na última semana não soube explicar aos senadores a sua movimentação bancária de mais de R$ 10 milhões.

“O Luxemburgo é muito despreparado para ter uma vida fiscal regular. Ele precisa de uma agente, assim como um jogador precisa de um agente para organizar a sua vida. Senti muito despreparo e muita inocência no seu depoimento. Não acho que ele tem má índole, é apenas desorganizado”, disse o dono da Traffic.

Segundo ele, sua empresa pagou a Wanderley R$ 16 mil de direitos de exploração de imagem no programa Super Técnico, da TV Bandeirantes. O treinador recebeu tal quantia por oito participações com cachê de R$ 2 mil por aparição.

Apesar de não ser tão desorganizado e esquecido como Wanderley Luxemburgo, J. Hawilla não sabe qual o valor de seu patrimônio. “Seria preciso fazer um levantamento e ver as declarações de Imposto de Renda”, alegou.

J. Hawilla afirmou que o ex-presidente do Flamengo Kléber Leite foi alvo de boatos que partiram de dentro do clube, afirmando que ele era sócio da Traffic. “A nossa empresa executou trabalho em conjunto com uma empresa de Kléber para explorar publicidade estática no Maracanã, mas nunca tive associação com dirigente de futebol ou empresário”, disse ele, que negou também ser sócio de Ricardo Teixeira e de João Havelange, presidente de honra da Fifa.

O senador Geraldo Althoff apresentou requerimentos solicitando que os ex-sócios da Traffic, Círio José e Paulo Roberto da Silva, sejam convocados a depor.



L!Sportpress


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