São Paulo - Há certa apreensão com relação à votação do Projeto de Lei n.º 47, de 2000, na Câmara dos Deputados, que garante dois anos de carência antes que a propaganda de cigarros e bebidas alcoólicas seja totalmente proibida no País. Os GPs do Brasil de Fórmula 1 e de Fórmula Indy de 2001 correm riscos de serem cancelados.
“Se a Câmara não votar ainda este ano, o fará apenas na segunda quinzena de fevereiro, o que coloca em xeque a realização do GP de F-1”, lembra Otavio Florisbal, superintendente comercial da TV Globo, dona dos direitos da F-1 no País.
“Não creio que os deputados se mostrem insensíveis à necessidade de, a esta altura, com os eventos tão próximos, aprovar a extensão do início da proibição”, afirma Reginaldo Bufaiçal, presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA).
A prova de F-Indy está programada para dia 25 de março no Rio e a da F-1 em São Paulo, uma semana depois, dia 1º de abril.
O ex-piloto, três vezes campeão do mundo, Nelson Piquet, espera que o bom senso prevaleça, tanto que já fala do futuro: “O Brasil talvez pudesse adotar algo parecido com o que faz a Austrália”, lembra. “Lá a publicidade de cigarros não é permitida, mas no caso de eventos internacionais, que de fato projetam o país, ela é aceita.”
Para o promotor da F-1, Tamas Rohonyi, da International Promotion, o Brasil e São Paulo capitalizam tanto com um evento desses que é difícil imaginar qualquer tentativa de inviabilizá-lo. “A competição é transmitida por TV para cerca de 200 países, a maioria ao vivo, a promoção proporcionada pelo GP do Brasil é única.”
Outro fator importante é o aumento da receita da cidade. Estima-se que direta e indiretamente a contribuição seja de US$ 75 milhões para a economia de São Paulo. “Países que perdem seu GP dificilmente o resgatam novamente”, lembra.
Convencer uma segunda mudança no prazo de propaganda é o segundo desafio que o País enfrentará na visão do diretor da Globo. “A Federação Internacional de Automobilismo (FIA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceram um acordo que permite a propaganda na Europa até o fim de 2005. Por que o Brasil, que endossou a decisão da OMS, quer ser diferente?”
Essa postura certamente levará a entidade a negociar com outros países para sediar o evento. “Posso garantir que existe uma lista de nações, oferecendo todo tipo de garantia, para entrar no calendário da F-1”, diz Rohonyi.
Além, portanto, de a Câmara ter de aprovar a emenda encaminhada pelo Senado, para a carência de dois anos na publicidade de cigarros, terá de haver nova mobilização no sentido de se buscar essa equivalência com a Europa para que a F-1 continue no Brasil, de acordo com a previsão de Otávio Florisbal.
O publicitário Mauro Salles destaca outro problema sério para o País continuar com sua corrida de F-1: “Os contratos da FIA prevêem que em três países os fabricantes de cigarros não irão poder expor suas marcas, França, Inglaterra e Alemanha.”
Se outra nação também proibir, haverá um custo, decorrente de o investidor continuar colocando dinheiro na equipe mas sem poder justificá-lo. Ele não terá a correspondência. “Calculo que essa despesa fique entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões. Quem paga? A FIA?”, questiona Salles. Esse é um motivo mais do que suficiente para a entidade, entenda-se o seu vice-presidente de promoções, Bernie Ecclestone, atender a outros países que querem o evento, ressalta o publicitário.
O Projeto de Lei n.º 47, de 2000, altera dispositivos da Lei n.º 9.294, de 15 de julho de 1996, que exclui dos meios de comunicação qualquer tipo de propaganda de produtos fumígenos e bebidas alcoólicas.