Brasília - O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, prestou depoimento nesta quarta-feira na CPI do Futebol, no Senado, e defendeu o contrato de patrocínio firmado entre a entidade que preside com a empresa de material esportivo Nike. Munido de vários documentos, o dirigente mostrou alguns contratos de outras confederações com patrocinadores, e nenhum é superior ao da CBF.
“A Inglaterra tem contrato com a Umbro e recebe US$ 7 milhões por ano (aproximadamente R$ 12,6 milhões), mesmo valor que a França e a Alemanha recebem da Adidas. A Argentina ganha US$ 8 milhões (aproximadamente R$ 14,2 milhões) da Reebok. A seleção brasileira recebe US$ 11 milhões (aproximadamente R$ 19,6 milhões), por ano, pelo uso de sua imagem. Dessa forma, tenho total convicção que este contrato é bom para a CBF”, afirmou Teixeira.
Perguntado se tinha conhecimento se o valor ganho pela seleção brasileira era inferior ao que a seleção americana de basquete, o Dream-Team, recebia de seu patrocinador, Teixeira disse não poder existir nenhum tipo de comparação nesse sentido.
“A realidade do basquete americano é diferente da nossa. Não sei quanto a seleção americana de basquete recebe de seu patrocinador”, afirmou Teixeira.
Muito questionado sobre cláusulas do contrato de patrocínio com a Nike, Teixeira demonstrou tranqüilidade em todas as respostas. Ele explicou que a empresa de material esportivo tem o direito de marcar dois jogos da seleção por ano, mas que isso não impede que a CBF agende seus próprios jogos.
Pelo contrato, a CBF só não pode marcar um amistoso num determinado país, caso a Nike já tenha agendado uma partida neste mesmo país para alguns meses depois, pois do contrário, o jogo da Nike perderia em interesse. Esse ponto do contrato só é válido para países europeus, Estados Unidos, Coréia do Sul e Japão, pois são os únicos em condições de pagar a cota exigida pela seleção para partidas amistosas, no valor de US$ 500 mil (aproximadamente R$ 900 mil).
Caso a Nike consiga vender o amistoso por um valor superior a esse, ela fica com 50% da quantia excedente. A outra metade é dividida, de forma igual, entre CBF e Traffic, empresa que intermediou o contrato entre a Nike e a entidade. Teixeira confirmou que é amigo pessoal do dono da Traffic, José Hawilla.
“Sempre nos falamos por telefone. Nós ficamos amigos em 1988, quando ele realizou a campanha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 1998”, afirmou Teixeira.
Juan Figger
Mostrando algumas correspondências entre o empresário Juan Figger e os dirigentes russos Koloskov e Turmakov, o senador José Eduardo Dutra (PT-SE) demonstrou que o empresário intermediou a realização de um amistoso da seleção brasileira com a Rússia, no dia 28 de agosto de 1996. Perguntado quanto Figger tinha recebido pelo jogo, Teixeira não respondeu.
“Não posso responder pois não tenho esse valor de cabeça. Quando retornar ao Rio de Janeiro vou verificar isso na contabilidade da CBF e envio aos senhores em 48 horas”, prometeu Teixeira, que ouviu dos senadores que Figger terá seus sigilos bancário e fiscal quebrados.
O dirigente voltou a garantir que a Nike não tem nenhum poder na escalação de jogadores da seleção. “Sobre esse assunto, o Senado recebeu uma declaração dos ex-técnicos da seleção brasileira Wanderley Luxemburgo e Zagallo garantindo que apenas eles é que tinham, durante o período que treinaram a seleção, o poder de escalar jogadores. Eu pedi para eles assinarem esta declaração, pois as pessoas estavam acreditando que a Nike escalava o time do Brasil, o que não é real”, afirmou Teixeira.
Ricardo Teixeira assegurou que não teme que a Nike venha a romper o contrato com a CBF por causa da instalação das CPIs da Câmara e do Senado.
“Não tenho o que temer neste ponto. Acho que as CPIs não influenciaram de maneira alguma a nossa relação com a Nike, e como o contrato é bom, não vejo motivo para que seja desfeito”, afirmou Teixeira.