São Paulo - A natação do Brasil está ganhando novas caras. São juvenis talentosos, de 15, 16 anos, e garotos de 20 e poucos anos que vão carregar a bandeira do esporte nos próximos anos. A responsabilidade de continuar o trabalho vitorioso de Gustavo Borges, Fernando Scherer, Rogério Romero e Luiz Lima assusta as novas promessas, que dizem não estar preparadas para segurar o rojão.
“Espero que eles continuem competindo por um bom tempo, até que surja um nadador com cabeça para assumir a responsabilidade”, diz César Quintaes, de 22 anos, atleta do Vasco. “Ainda não estamos preparados e quanto mais tempo pudermos adiar, melhor. Precisamos aprender mais e subir a escada aos poucos.”
César explica que a questão não é “fugir da raia.” Quer “estourar” em 2001, mas não pretende antecipar os acontecimentos. “Não se faz um talento de um dia para o outro. É preciso investimento – dos clubes, da CBDA (Confederação Brasileira dos Desportes Aquáticos) e do próprio atleta”, opina o nadador, reserva no revezamento 4 x 100 m, livre, medalha de bronze na Olimpíada de Sydney; ouro no 4 x 100 m, livre, do Pan-americano de Winnipeg, em 1999; campeão nos 50 m, livre, no Sul-Americano de 98; e prata nos 50 m, livre, na etapa canadense da Copa do Mundo de 98/99. “A maior das pressões vem de mim mesmo, porque sei que posso crescer.”
Carlos Jayme, de 20 anos, bronze em Sydney com o revezamento; ouro nos 100 m, livre, e 4 x 200 m, livre, no Sul-Americano, de 2000, diz que na época em que era juvenil sentiu-se pressionado por conta dos bons resultados. Em 94, no Meeting Internacional de Portugal, ganhou seis medalhas de ouro e foi bicampeão sul-americano juvenil nos 50 e 100 m livre, em 96/97. “Tem de ter muita cabeça para não se abalar com a pressão”, observa o nadador, que vai treinar e estudar comércio exterior na Flórida, nos Estados Unidos. “Hoje tem muita gente boa aparecendo e a tendência é que a briga na piscina aumente.”
Eduardo Fischer, de 20 anos, que integrou a equipe medley olímpica, é menos diplomático. Aponta Edvaldo Valério, Leonardo Costa e Marcelo Tomazini como as novas caras da natação. “A renovação é necessária e acho que estou no meio de uma nova safra que vem na cola destes aí.” O atleta do Vasco, promissor no estilo peito (ouro nos 100 m, na etapa do Rio da Copa do Mundo de 1999/2000, ouro nos 50 e 100 m e prata nos 200 m e 4 x 100 m, medley, no Sul-Americano de Mar del Plata, em 2000), destaca a importância de ter ídolos no esporte. “Quando era pequeno, tinha medo de que o público perdesse o interesse na natação por falta de ídolos. Está na hora de pipocar mais e mais.”
Novíssimos – “É tanta gente falando que sou uma promessa que estou começando a acreditar.” A frase brincalhona é de Henrique Barbosa, de 16 anos, atleta do Flamengo, bronze nos 200 m, peito, na Copa do Mundo, no Rio, e campeão nesta prova além dos 100 m no Brasileiro Juvenil, em 2000. A geração de 84, na opinião dele, é a melhor do últimos tempos. “O legal é que a gente está indo além do estilo livre. Tem cara que nada borboleta, peito...”
Henrique agradece aos mais velhos por estar tendo facilidade no início da carreira. “O Gustavo, o Rogério e o Xuxa abriram as portas. E agora temos de pensar em aumentar o prestígio da natação.”
Ao lado de Henrique, Kaio Márcio, ouro nos 50 m e 200 m, borboleta, no Brasileiro Juvenil, diz que tem noção da responsabilidade que terá pela frente. “É difícil dar continuidade ao que já foi feito. O esporte individual é muito instável, mas eu sei que o quero conseguir e isso é o começo.”