Rio - Bernardo Rocha de Resende, o Bernardinho, é o mais bem sucedido técnico da história da seleção feminina de Vôlei. Desde que assumiu o comando, em dezembro de 1993, até sua saída em novembro de 2000, foram oito títulos conquistados, dois vice-campeonatos e quatro terceiros lugares.
A "era Bernardinho" começou com a segunda colocação no Campeonato Mundial realizado em 1994, no Brasil. No mesmo ano, a equipe brasileira conquistaria o primeiro de seus três títulos do Grand Prix - os outros dois viriam em 1996 e 98. Em 96, o Brasil subiu pela primeira vez no pódio olímpico, com a medalha de bronze em Atlanta (EUA). A equipe repetiria o terceiro lugar um ano depois, na Copa dos Campeões, no Japão, após vencer o Sul-Americano e o torneio classificatório para o Campeonato Mundial. A seleção foi ainda bicampeã (1994/95) da Copa BCV, tradicional competição realizada anualmente na Suíça, e vice-campeã da Copa do Mundo (95).
O Campeonato Mundial do Japão, em 1999, foi a única competição que não teve as brasileiras entre as três primeiras colocadas durante todo o período em que foram treinadas por Bernardinho. Ainda em 99, no entanto, o Brasil foi campeão do Pan-Americano de Winnipeg, no Canadá, derrotando na final a temida seleção cubana, que seria tricampeã olímpica um ano depois.
O terceiro lugar no Grand Prix, nas Filipinas, e a medalha de bronze nas Olimpíadas de Sydney (AUS), ambos em 2000, foram as últimas conquistas da seleção de Bernardinho, que teve Fernanda Venturini, Ana Moser e Márcia Fu, passando por Leila e Virna, até chegar nas jovens Érika, Walewska e Elizângela. Aos 41 anos, o treinador, famoso pelo estilo sério e pela forma dura com que costuma chamar a atenção das jogadoras em quadra, aceitou o desafio de substituir Radamés Lattari na equipe masculina.
"Se tivesse levado em conta só o meu coração, teria permanecido na seleção feminina. Sei que deixei grandes amigas por lá. Em 1996 houve uma sondagem, mas agora resolvi aceitar", disse na época em que foi anunciada a troca, acrescentando que, na sua opinião, a mudança será positiva também para as duas equipes.
O técnico vai coordenar ainda as seleções infanto e juvenil e pretende implementar um sistema que permita realizar um trabalho simultâneo com todas as categorias. A idéia é promover uma renovação gradual, a exemplo do que foi feito na seleção feminina, sem sacrificar a qualidade técnica do grupo.
"Seria fácil dizer simplesmente que vamos renovar, mas a verdade é que ninguém agüentaria alguns anos de derrotas", declarou.
Por isso, Bernardinho conversou com o técnico da seleção juvenil masculina, Marcos Lerbach, e ficou satisfeito.
"O Marquinhos é otimista com relação às gerações que estão surgindo e prometeu mais dois "Dantes" para serem trabalhados", disse, referindo-se à maior revelação da seleção masculina nos últimos anos. Nesta nova etapa, o treinador espera mais competitividade.
"Antes dos Jogos Olímpicos, a Iugoslávia não era nem citada numa lista dos possíveis campeões. Temos de montar um grupo disposto a pagar o preço do sacrifício. Vou fazer, basicamente, o que fiz no feminino", explicou, lembrando-se dos atuais campeões olímpicos.
Até o fim da Superliga Feminina, previsto para abril de 2001, Bernardinho continuará comandando o time do Rexona, de Curitiba (PR), com o qual venceu o torneio por duas vezes, em 1997 e 1998, e foi vice-campeão em uma oportunidade, em 1999. Durante este período, o treinador Chico dos Santos, que já é contratado da CBV, assistirá aos jogos da versão masculina da competição para que, em fevereiro, seja convocado o grupo que disputará a Liga Mundial em maio, junho e julho. "Tenho de encerrar o meu compromisso com o Rexona, mas ao mesmo tempo, estudarei vídeos e todo o material necessário para me manter atualizado", esclareceu.
Antes de iniciar a carreira de treinador, Bernardinho atuou como levantador em equipes do Rio de Janeiro, como o Fluminense, o Atlântica-Boavista e o Bradesco. Além disso, fez parte da chamada "Geração de Prata", vicecampeã Mundial (1982) e Olímpica (1984), ao lado de Willian, Montanaro e Bernard.
Em 1988, encerrou a carreira de jogador para atuar como assistente do técnico Bebeto de Freitas na seleção brasileira que disputou os Jogos Olímpicos de Seul. Dois anos depois, transferiu-se para o Peruggia, da Itália, onde dirigiu a equipe feminina local até 1992, para, no ano seguinte, comandar o Modena. Em seguida, retornou ao ao Brasil para assumir a direção da seleção feminina.