São Paulo - Romário talvez nem precisasse disso, mas conseguiu em 2000 o que poucos jogadores no mundo sonham: aos 34 anos, virou quase uma unanimidade. O Baixinho não ficou livre de problemas. Perdeu decisões, enfrentou crises no Vasco e, ainda por cima, sofreu lesões, ainda que, contrariando a lógica da idade, elas tenham se tornado bem mais raras. Mas os obstáculos só não impediram que Romário fizesse gols, muitos gols.
Em 2000, ele demoliu recordes e barreiras. No melhor ano de sua carreira, já fez 73 gols em 74 jogos, deixou sua marca em partidas decisivas e inesquecíveis. Amanhã, ele tentará alcançar dois feitos ainda inéditos: a artilharia e o título de uma competição nacional.
– Romário está mais maduro, tem um aproveitamento incrível. Se tem quatro chances num jogo, faz dois gols. A colocação dele é cada vez melhor, graças à experiência – diz o coordenador técnico da Seleção, Antônio Lopes, técnico de Romário no início da carreira e em parte deste ano.
Contratado no fim do ano passado, depois de passar pelo Flamengo, Romário chegou a São Januário sob olhares desconfiados, mas foi conquistando seu espaço. Fernando Lima, o Zé Colméia, seu fisioterapeuta, foi contratado pelo clube.
– A gente vai ficando mais experiente, com cabelos brancos. Hoje sou realizado e feliz – diz Romário.
No início do ano, o artilheiro parecia perseguido por uma nuvem negra que o acompanhava desde os últimos meses de Flamengo. Na primeira competição, foi artilheiro, mas participou de uma das mais dolorosas derrotas da história do Vasco: o vice-campeonato no Mundial de Clubes. Dias depois, ele era novamente artilheiro, mas na goleada de 4 a 0 do Palmeiras na final do Rio-São Paulo, veio a primeira lesão no ano. O ambiente era péssimo. Enquanto fazia gols no Estadual, Romário trocava farpas com Edmundo.
Até que veio o primeiro show: três gols e uma ótima exibição na goleada de 5 a 1 sobre o Flamengo, na final da Taça GB. Pela sétima vez, ele seria artilheiro do Estadual, quebrando recorde de Zico e ganhando a queda-de-braço com Edmundo, que acabou emprestado ao Santos.
Romário era o artilheiro de sempre e o ambiente no Vasco era ruim como nunca. Eliminado da Copa do Brasil, com um elenco desunido, o time perdeu o Estadual para o Flamengo. Romário, com nova lesão, jogou no sacrifício. Mais um vice-campeonato e o corte da Seleção, que o acolhera de volta.
Mudou o semestre e com ele a sorte do artilheiro. A Seleção o chamou de volta. Foram sete gols contra Bolívia e Venezuela, a artilharia das Eliminatórias e novo recorde à vista: o Baixinho ficou a um gol de Zico, o segundo maior artilheiro da história da Seleção.
A última lesão do ano o tirou do jogo com a Colômbia, mas não o impediu de fazer novas exibições de gala. A maior foi na final da Copa Mercosul: três gols, uma heróica virada contra o Palmeiras e o título que faltava na volta ao Vasco. Romário ultrapassava Roberto Dinamite e se transformava no jogador com o maior número de gols numa só temporada pelo Vasco. Com gols decisivos na Copa JH, ele conduziu o time à final e se aproxima de um dos poucos títulos que não tem.