Porto Alegre - Confira algumas frases e histórias do bicampeão olímpico brasileiro Adhemar Ferreira da Silva, morto aos 73 anos na sexta-feira em São Paulo:
"Achei a palavra atleta bonita e decidi que queria ser um."
Sobre como começou no esporte, em meados de 1946, ao ver um negro bonito e esguio passar por ele e um amigo no centro de São Paulo. O homem em questão era José Márcio Cato, da equipe de atletismo do São Paulo
"Não posso aceitar."
Em 1952, logo depois de conquistar o ouro na Olimpíada de Helsinque, Adhemar recusou uma casa oferecida pelo jornal Gazeta Esportiva porque o regulamento do Comitê Olímpico Internacional (COI) não permitia que os atletas se beneficiassem do esporte. Adhemar continuou trabalhando como funcionário da prefeitura de São Paulo para pagar o aluguel. Treinava na hora do almoço, quando era possível.
"A prefeitura é lugar de funcionários e não de vagabundos desportistas."
Prefeito Jânio Quadros, justificando o porquê de ter descontado oito dias do salário de Adhemar, que havia viajado ao Chile para competir.
"Na rua onde eu moro, não tape os buracos, pois foi saltando eles que eu ganhei força nas pernas para trazer a medalha de ouro para o Brasil."
A resposta de Adhemar no mesmo dia por meio de um programa de rádio. No dia seguinte, a prefeitura abriu um inquérito administrativo que fez o atleta perder o emprego.
"Ele chamou muito a minha atenção porque, até então, nunca tinha visto um negro."
Dona de casa inglesa Rosemary Mula, que acompanhou a carreira de Adhemar a partir de 1956, na Olimpíada de Melbourne (ela e a família haviam se mudado para a Austrália). Rosemary e o marido Wilfred fizeram questão de hospedar o brasileiro em sua casa, da qual se vê o Estádio Olímpico, durante os Jogos de Sydney, em 2000
"O Gerner fez de mim não um campeão, fez de mim um homem."
Sobre o alemão Dietrich Gerner, seu primeiro e único técnico.
"Eu gostaria que as coisas que acontecem no atletismo, no esporte, acontecessem na vida diária em qualquer tipo de atividade. Antes de se negar o trabalho a um negro porque é negro, lhe dessem oportunidade. E oportunidade, eu costumo exemplificar com uma corrida de 100m rasos, na qual se alinham brancos, pretos, azuis, vermelhos, amarelos. A voz de comando é uma só. Sai o tiro, eles todos saem correndo, e aquele que chega na frente é campeão. Chama-se oportunidade. Ninguém diz que só um branco pode ganhar, porque não adianta."
Em entrevista publicada por Zero Hora em 19 de abril de 1997, quando Adhemar esteve na Capital para acompanhar a etapa gaúcha do Grand Prix de Atletismo, disputado na Unisinos, em São Leopoldo.
"Em um país como o nosso, não se pode falar mal do futebol. Eu detesto futebol, porque o torcedor de futebol não aplaude jogadas. Só quer saber que o time dele ganhe de qualquer maneira. No atletismo, a beleza é esta: o público aplaude o feito sem saber a religião, a cor."
Na mesma entrevista
"Os tipos bonitos como eu dão certo nessa modalidade."
Sobre os atletas bem-sucedidos no salto triplo, geralmente negros, esguios e de pernas longas.
"Sempre fui muito rodeado por mulheres, principalmente nos países escandinavos. Eu dizia ‘sai Satanás’ e me livrava delas."
Apesar do assédio feminino, Adhemar casou-se uma única vez. A companheira Elza, que lhe deu a filha única Adyel, morreu em 1995. Adyel também tem um só filho, Diego, 16 anos.