Rio - O tenista Gustavo Kuerten é famoso por adorar desafios. Não fosse sua coragem para enfrentá-los, o título de Roland Garros em 1997 ainda seria um sonho para o tênis brasileiro.
Talvez por gostar tanto dessas batalhas não lhe tenham sobrado muitas barreiras para ultrapassar. A partir de terça-feira, ele terá a chance de quebrar um dos poucos tabus que ainda o perseguem: o número 1 do mundo jamais passou da segunda rodada no Aberto da Austrália, torneio que abre a temporada do Grand Slam (circuito de eventos que inclui Roland Garros, Wimbledon e US Open).
Se passar pelo argentino Gaston Gaudio, seu adversário na estréia, Guga estará igualando sua melhor performance na competição. Em 1997, primeiro ano em que jogou o Aberto, ele chegou à segunda fase ao derrotar o sul africano Neville Godwin. Em 98, passou pelo francês Nicolas Escudé; e em 99 despachou o russo Marat Safin na primeira partida.
O catarinense, cabeça-de-chave número 1 de um grande torneio pela primeira vez, sabe que um bom resultado em Melbourne aumentará sua confiança para a temporada.
"Vamos ver se eu já começo o ano com o pé direito, conseguindo avançar na Austrália", torce ele.
Não são poucos os obstáculos que o Australian Open impõe. A longa viagem até a terra dos cangurus é o pesadelo da grande maioria dos tenistas. A dificuldade de adaptação ao fuso horário é invariavelmente apontada como causa das derrotas. Sem falar na falta de ritmo, típica de início de temporada. Além dos problemas que atingem quase todos os jogadores, Guga tinha outra desculpa: até o ano passado, quadras rápidas não eram exatamente a sua praia.
Mas a falta de intimidade com os pisos duros foi devidamente exterminada na última temporada. Os títulos em Indianápolis, nos Estados Unidos, e na Masters Cup, em Portugal, extinguiram a fama de "tenista de um piso só" que a habilidade no saibro rendeu ao brasileiro. Em 2001, Guga é considerado favorito em qualquer tipo de superfície.
Se até agora o número 1 do mundo chegava à Austrália sem muitas expectativas, desta vez todas as atenções estarão voltadas para ele. É certo que dividirá a responsabilidade com os australianos Patrick Rafter e Lleyton Hewitt, que são peritos em quadras rápidas e jogarão em casa; com o atual campeão, o americano Andre Agassi, favorito absoluto; e com o jogador que mais tem títulos de Grand Slam, com 13 troféus, o americano Pete Sampras.
Mas Guga, que dominou a última temporada, será o protagonista da festa.