Rio - Quando Mauro Galvão, 39 anos, dava a sua primeira volta olímpica de campeão brasileiro, em 1979, Fabrício chupava bico e usava fraldas. Tinha nascido há dois meses.
O tempo passou e o zagueiro, hoje com 21 anos, ganhou o apelido de “Galvão” por ter tipo físico, jeito de andar e estilo de jogo semelhante ao do veterano colega de profissão. Pois o destino encarregou-se de tornar realidade o que parecia improvável.
Quarta-feira, no Olímpico, os dois estarão lado a lado na defesa do Grêmio pela primeira vez na partida decisiva contra o Coritiba, pela Copa Sul-Minas.
É uma situação inusitada de tempo e coincidências. Galvão podia ser pai de Fabrício. No Grêmio, ganhou o apelido de “bisa”, corruptela de “bisavô”, em uma referência, claro, à longevidade espantosa de Galvão, que segue marcando até gol, como o diante do Figueirense, em Florianópolis. Os dois têm quase a mesma altura e são igualmente magrelos. Galvão mede 1m80cm. Fabrício tem 1m84cm e era capitão nos juniores. Leu a biografia Mauro Capitão Galvão, sobre a trajetória vencedora do seu ídolo. Este, por sua vez, cansou de erguer taças com a braçadeira dos times pelos quais passou. A última taça nacional vencida pelo Grêmio foi ele que levantou, a Copa do Brasil de 1997. Os dois, para completar, usam um anel discreto no dedo como adereço, em vez das correntes espalhafatosas, argolas de ouro e correntes burlescas.
Até a desconfiança pelo corpo franzino e a altura nem tão avantajada assim para zagueiros une os dois. Galvão já passou por ela – e com louvor. Fabrício ainda sofre. Nos juniores, tentaram transformá-lo em volante, devido ao porte físico – uma tremenda bobagem, pois zagueiros brilhantes como Daniel Passarela e Gamarra, só para citar dois exemplos, são “baixos”. A desconfiança serviu de incentivo. E, como era só ligar a TV e lá estava Galvão dando carrinhos na bola e acertando todos os passes, Fabrício virou fã de carteirinha para aprender o máximo possível sobre como se tornar um zagueiro.
”Posicionamento e atalho é com ele mesmo. No começo do ano passado, quando esta história de me comparar a ele pegou, eu jamais me imaginaria jogando com ele em tão pouco tempo”, sorri Fabrício, que começou no Inter, a exemplo de Galvão.
Há oito anos, porém, uma séria crise no departamento amador do Beira-Rio obrigou o clube a dispensar um grupo de garotos, entre eles Fabrício.
Estou conhecendo o Fabrício agora. É gratificante e, ao mesmo tempo, uma responsabilidade e tanto saber que virei referência para a gurizada. Tomara que dê certo – afirmou Mauro Galvão, sobre a parceria com Fabrício, que chupava bico e usava fraldas enquanto seu futuro companheiro de zaga dava volta olímpica de campeão brasileiro invicto pelo Inter, em 1979.