GUADALAJARA - Romário deixou o gramado do Estádio Jalisco, na noite de quarta-feira no México (madrugada de ontem no Brasil), ovacionado pelos torcedores, em sua maioria adversários. Mais uma vez foi o herói do Brasil.
Salvou o time do vexame e garantiu o empate com o México em 3 a 3. Na saída, uma multidão de repórteres queria entrevistá-lo.
O momento não parecia adequado para declarações polêmicas, mas Romário não quis saber. Soltou sua língua cruel contra Wanderley Luxemburgo, ex-técnico da Seleção, e elogiou Emerson Leão. “Só de saber que hoje a seleção tem um treinador (Leão) honesto, que convoca o jogador independentemente do nome ou do clube onde joga, já é bom." Uma pergunta pairava no ar. O quê ele quis dizer?
“Ele (Luxemburgo) foi desonesto comigo, porque eu estava bem na época da Olimpíada", explicou. Romário não se conforma, até hoje, com o fato de ter ficado fora da Olimpíada de Sydney.
Jurou que, em suas afirmações, não quis referir-se às acusações feitas contra o treinador pela secretária Renata Alves, que afirmou que Luxemburgo recebia propinas para convocar atletas. Nem fazer uma alusão ao crime de sonegação fiscal que o próprio treinador confessou ter cometido. “Ele não me convocou e eu me dei mal por isso, mas ele também", afirmou, referindo-se ao momento difícil pelo qual passa Luxemburgo.
A personalidade difícil de Romário sempre foi um problema a ser contornado pelos treinadores. Leão começou bem e está domando a fera com tranqüilidade. Faz questão de poupá-lo dos treinos mais pesados e de deixá-lo sempre à vontade nos jogos. Além de tudo, deu-lhe a tarja de capitão. Ganhou a simpatia e a confiança do atacante, que não se cansa de elogiá-lo. “Ele tem o respeito da comissão técnica e está nos respeitando", disse Leão.
Contra o México, Romário estava jogando mal. Quase não encostava na bola. O segundo tempo chegava à metade e o Brasil perdia a partida, quando Leão resolveu fazer quatro substituições -tirou craques como Rivaldo e Roberto Carlos -, mas manteve o vascaíno em campo. A estrela do atacante brilhou novamente. Foram dois toques com categoria e dois gols. Garantiu ao Brasil o empate por 3 a 3 e livrou Leão das críticas.
O treinador acabou saindo de campo vitorioso por ter apostado em Romário até o fim. “Ele é diferenciado e provou porque é o titular da Seleção aos 35 anos." O técnico admitiu que dará um tratamento especial ao jogador em 2001 porque espera contar com ele na Copa do Mundo. Deixou claro, porém, que tudo vai depender do comportamento do atacante. “Ele sabe que será tratado de forma respeitosa, carinhosa, mas profissional. Este é um ano importante e ele tem consciência de que a próxima Copa será a última de sua carreira; para chegar até lá, vai precisar se cuidar, se preparar."
Romário fala com cautela sobre 2002. Quer, agora, disputar quantos jogos puder pelo Brasil para alcançar seu grande objetivo no momento, o de ultrapassar Pelé na artilharia da Seleção. Com os dois gols marcados contra o México, chegou a 60, segundo levantamento da CBF. Faltam 17 para empatar com o Rei.