Rio - O lateral Athirson evita tocar no assunto Flamengo, mas não consegue esconder a mágoa com a atual diretoria. Ele fala com saudade do seu clube do coração, faz juras de amor à torcida e diz até que quer voltar. No Rio pela primeira vez após a saída da Gávea, o lateral da Juventus tem motivos para sorrir.
Na terça-feira, nasceu seu primeiro filho, Maria Eduarda, com 3,2 quilos e 49cm. O sorriso de Athirson só some ao comentar a promessa dos dirigentes rubro-negros de processá-lo e até de bloquear seus bens. Os dirigentes alegam que Athirson tinha vínculo ao deixar o clube.
Como é a emoção de ser pai?
Athirson: Não tem nada igual. Roberta fez cesariana e falaram que eu não agüentaria ver. Mas filmei tudo. Acho que eu fiquei mais nervoso do que ela. A ansiedade é muito grande. Quando tudo terminou, vi Roberta bem, já com Maria Eduarda na cama, e fiquei mais tranqüilo.
A tentativa do Flamengo de contestar o valor de sua transferência prejudicou sua adaptação à Itália?
A: Desde que cheguei à Itália não quis mais me envolver no assunto. Eu sempre fui o mais prejudicado, o mais estressado com isso. Outro problema era o frio, que eu estranhei muito. Ainda não tinha casa e morava num hotel. Fiquei um bom tempo recuperando a parte física e não treinava com bola. Mas a diretoria e a comissão técnica da Juventus me tranqüilizaram. Com mais tempo, estarei adaptado. Não vou falar do Flamengo para evitar mais problema.
O que você acha da intenção do presidente do Flamengo de processá-lo? Ele diz que você causou prejuízo ao clube.
A: Só ele perdeu? E o que eu perdi com tudo isso, não conta? Fico muito triste. De repente, tudo que se faz por um clube não vale. Sempre joguei pelo Flamengo por amor e respeitei o clube. E agora vem esse tipo de coisa.
Você tem mágoa da atual diretoria? Acha que foi desrespeitado?
A: Não queria falar, mas é triste que isso tenha acontecido. Feliz eu não estou. Se fosse uma pessoa só falando do Flamengo, tudo bem. Mas não sou só eu. A gente vê nos jornais jogador falando em briga, que as coisas no grupo não vão bem. E no meu tempo isso não acontecia. Leandro Machado uma vez brigou com Ronaldo e, logo depois, todos se falavam.
Mesmo assim, você sente saudade do Flamengo?
A: Muita saudade. O Flamengo não tem nada a ver com o que está acontecendo. Sou rubro-negro. Tenho saudade de tudo do Flamengo. Das pessoas, dos amigos, da torcida. Fiquei muito feliz na final da Taça Guanabara e liguei para Juan logo depois. Eu penso em voltar para o Flamengo. Falo muito com Leonardo, do Milan, que também me disse que quer voltar. Os jogadores da Juventus falam da torcida de lá. Eu digo que um dia vou filmar a do Flamengo para mostrar a eles. Não há comparação.
Como você foi recebido na Itália?
A: Muito bem. Jogadores de nome me surpreenderam. Zidane e Davids são consagrados mas falam com todo mundo. Van der Sar brinca muito comigo. Diz para eu aprender logo a falar italiano. Sou mais amigo de Carini, goleiro uruguaio. Saímos muito para jantar. Joguei um amistoso contra o Uruguai e entrei num jogo contra o Brescia. E logo no lugar de Zidane!
E o estilo de jogo?
A: É diferente. Os técnicos pedem que o lateral marque mais. Poucos jogadores têm liberdade para criar. Contra o Brescia, joguei no meio-campo.
Como é a estrutura do clube?
É impressionante. Há um min-hospital no estádio, o centro de treinamento oferece mais de 200 aparelhos de musculação e fisiologia. Eu queria que o Flamengo fosse igual. O dinheiro perde importância com tantas condições de trabalho. Na Itália, o jogador tem muito mais segurança para exercer a sua profissão.