Rio - O Vasco, primeiro colocado da Taça Rio, lidera também o ranking de pênaltis sofridos no Campeonato Estadual. Em oito ocasiões a bola foi parar na marca de cal a 9,15m do gol.
O último deles aconteceu na quinta-feira. O Bangu vencia em São Januário por 2 a 1, quando, aos 33 minutos do segundo tempo, o atacante Euller se jogou na área, após uma intervenção legal do goleiro Eduardo. O árbitro Samir Yarak, distante do lance, apontou infração. Romário converteu a cobrança, empatando o jogo. Onze minutos depois, Viola fez 3 a 2 para o Vasco. Fim de jogo.
Não há nesse episódio uma denúncia de desonestidade. Mas a possibilidade, sugerida por algumas coincidências, assombram.
''Os juízes sofrem muita pressão para favorecer o Vasco, de Eurico Miranda, e o Americano, time do presidente da Federação. Se desagradarem, deixam de apitar. Mas não dá para provar que isso vá além da pressão'', afirma o ex-árbitro e comentarista José Roberto Wright, que absolve Yarak: ''Ele me parece correto''.
O próprio Vasco parece corroborar a tese. Ontem, a diretoria do clube decidiu colocar o ex-árbitro Pedro Carlos Bregalda de olho no lance. Assessor do Vasco para assuntos de arbitragem, ele vai passar a acompanhar todos os jogos do Americano - rival direto na briga pelo segundo turno -, e fará relatórios ao menor sinal de irregularidade.
O Flamengo, outro interessado direto no tema, protestou contra o pênalti de quinta-feira. Os rubro-negros disseram ontem que o juiz estava mal-intencionado. ''Foi uma arbitragem de araque'', acusa o técnico Zagallo, aproveitando para fazer graça com o nome do juiz.
Não é a primeira vez que o Flamengo reclama de Yarak. Em 18 de fevereiro, o time perdeu para o Botafogo por 1 a 0, pela Taça Guanabara. O protesto, daquela vez, foi pelo fato de o juiz ter expulsado de campo o zagueiro Juan, o que teria influenciado na derrota. O JB de 19 de fevereiro publicou uma frase do vice-presidente Walter Oaquim sobre o episódio: ''O juiz só pode ter feito isso para beneficiar alguém. Esse vai entrar para a nossa lista negra''.
Com isso, o clube tentaria vetar o nome do árbitro dos próximos jogos. A posição mudou rapidamente: três semanas depois, Yarak era escalado para apitar Flamengo 2 x 1 Bangu. O clube da Gávea teve um pênalti marcado a seu favor. Na ocasião, o colunista Sérgio Noronha, do JB, observou: ''O Flamengo foi salvo por um pênalti, a meu ver duvidoso, marcado pelo árbitro Samir Yarak logo aos 30 segundos do segundo tempo''. O primeiro tempo havia terminado num 0 a 0 de dar pena, pela incompetência dos atacantes rubro-negros naquela tarde. No mesmo jogo, o Bangu teve um jogador expulso e quatro com cartões amarelos; no time do Flamengo, apenas dois receberam amarelo.
''Não falei que ele não apitaria mais jogo do Flamengo. Eu não veto ninguém, mas contra o Botafogo ele foi altamente parcial, nos prejudicou'', disse ontem ao JB Walter Oaquim. Sobre o jogo com o Bangu, Oaquim preferiu não comentar.
Geladeira - ''Um juiz que resolver enfrentar o esquema é colocado na geladeira. É o caso do Álvaro Quelhas'', diz Wright. Quelhas, um dos dois únicos árbitros do Rio que pertencem ao quadro da Fifa - teoricamente mais gabaritados -, não apitou nenhum jogo no Estadual deste ano. ''Sobre o Quelhas, a única pessoa que pode se pronunciar é o presidente da Federação'', explica Daniel Pomeroy, ex-juiz, secretário-geral da Comissão de Arbitragem da Federação do Rio. Eduardo Viana, o Caixa dágua, o único que pode se pronunciar, não foi localizado pelo JB ontem, apesar de insistentemente procurado.
Sobre Yarak, que não respondeu aos telefonemas do JB, Pomeroy disse ontem que solicitou o teipe do jogo de quinta-feira para avaliar seu comportamento. A Comissão de Arbitragem da Federação vai se reunir para dizer se o juiz pisou na bola a ponto de merecer o único castigo possível, a não-escalação em outros jogos.
A Federação explica que a escolha de um árbitro passa pelo crivo de seis entendidos no assunto. A seguir, a escala é encaminhada a Eduardo Viana, que dá ou não seu OK. ''É um regime presidencialista. Tudo passa por ele'', diz Pomeroy.
Os oito times pequenos, que até aqui tiveram apenas 12 pênaltis marcados a seu favor no campeonato - os quatro grandes sofreram 18 -, sentem-se de mãos atadas: ''Já sabemos que reclamar não vai dar em nada'', resigna-se o gerente de futebol do Bangu, Maurício Mattos.
O Americano, a propósito, não teve nenhum pênalti marcado a seu favor. ''Mas o favorecimento não é só na marcação de pênaltis. Um gol anulado, por exemplo, ajuda bastante'', diz Wright.
É disso que o até o Vasco reclama. No jogo entre os dois times, em Campos, o clube carioca teve um gol anulado. No Olaria, outro que não teve pênalti marcado a favor, a mesma queixa: ''Quando jogamos com o Americano, tivemos um gol anulado. O juiz Ezequiel dos Santos, que estava na intermediária, apontou falta técnica do Boiadeiro, que cabeceou na área. Ele alegou que o nosso jogador gritou deixa, o que ele obviamente não poderia ter ouvido, já que estava muito longe'', diz o técnico Mário Marques, que tem mais a reclamar: ''Quando enfrentamos o Vasco, o Edílson Soares da Silva marcou um pênalti bem duvidoso'', completa Mário. Com a cobrança de Romário, o Vasco venceu por 1 a 0. O gol foi marcado aos 38 minutos da etapa final.