Brasília - O estudo dos documentos da CBF revela que a entidade criou uma rede de influência política no país fazendo doações em dinheiro.
A proximidade entre os gramados e a política vai além das cadeiras estofadas do Congresso. A CBF financiou a campanha de muitos deputados e senadores nas eleições de 1998.
Somente com o auxílio para um grupo de deputados – entre eles o gaúcho Darcísio Perondi (PMDB-RS), irmão do presidente da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), Emídio Perondi, e figuras políticas nacionais como Delfim Netto (PPB-SP), além de dois senadores –, a CBF gastou R$ 612 mil. Contribuiu assim para formar a chamada “Bancada da Bola” no Congresso.
Mas não foi só isto. Gráficos comprovam que o fluxo de recursos destinados pela CBF às federações foi maior nos períodos eleitorais. A CBF teria doado muito mais dinheiro às campanhas de 1998 e 2000 do que consta em sua contabilidade, revela o relatório. O montante distribuído em períodos eleitorais ultrapassa R$ 12 milhões e atendeu critérios pessoais de Teixeira.
A Federação Acreana recebeu em um só ano a maior benevolência da CBF: R$ 418 mil. Em 1988, o presidente da federação, Antônio Aquino Lopes, que disputava eleição no seu Estado, recebeu dois cheques num total de R$ 57,5 mil, um deles depois da eleição.
A ajuda a parentes também é comum no Rio Grande do Sul. Além de receber R$ 100 mil da CBF para sua campanha em 1998, Darcísio Perondi recebeu mais “5 pila” (R$ 5 mil) – a expressão é do irmão Emídio Perondi, presidente da Federação Gaúcha de Futebol. Segundo relatou Emídio à comissão, “se tivesse dinheiro ajudaria muito mais porque não existe candidato que não pega dinheiro de alguém.”
Ainda contra Emídio Perondi, a CPI levantou indícios de que, ao intermediar o dinheiro da CBF para os clubes, o dirigente praticou descontos. O relatório cita um cheque de R$ 260 mil para a Federação em 1996, cujo dinheiro deveria ter sido repassado ao Inter, referente ao adiantamento de cotas de televisionamento. Emídio, porém, só enviou ao clube R$ 250 mil e os R$ 10 mil teriam ficado para a FGF.
No depoimento à CPI, Emídio declarou: “tão me devendo, pomba! Eu tiro um pouquinho de cada um. Ou vai ficar só no...no...(gaguejando) no vento. Senão não tenho caixa, né ?”
A administração da Federação Gaúcha de Futebol por Emídio é denunciada pela CPI como temerária nos campos administrativo, fiscal e financeiro.
O presidente da Federação Sul-Matogrossense de Futebol, Francisco Cezário de Oliveira (PSDB-MS), que foi candidato a vereador em Rio Negro – cidade a 150 quilômetros de Campo Grande –, em 2000, recebeu um cheque de R$ 15 mil da própria federação que comanda.