Brasília - A CPI do Futebol no Senado apontou nesta quinta-feira graves irregularidades administrativas na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), durante o último depoimento na comissão, o do contador da entidade, Oswaldo Ferreira.
Pagamentos excessivos a empresas que prestam serviços à CBF, falta de comprovantes de gastos e investimentos duvidosos estão entre as anomalias observadas no depoimento do contador aos senadores.
“Ficou clara a desorganização, os abusos e a falta de transparência'' na CBF, disse aos jornalistas o relator da CPI, Geraldo Althoff (PFL-SC), que prepara o relatório final para ser apresentado em 4 de dezembro.
O senador Álvaro Dias (PDT-PR), presidente da comissão, disse que depois da derrota para a Bolívia por 3 a 1 na quarta-feira ``nem precisa falar que (a CBF) está envolvida numa absoluta desorganização.''
Durante o interrogatório, Althoff mostrou a Ferreira documentos contábeis da CBF de 1995 a 2000, evidenciando a falta de registros para justificar os gastos da entidade, presidida por Ricardo Teixeira desde 1989.
“A falta de documentação é habitual no processo contábil de 95 a 2000, que foi à qual tivemos acesso'', comentou o senador.
Questionado sobre a ausência de documentos, Ferreira se esquivou. “Não estou satisfeito com o sistema de contabilidade, mas é difícil obter a documentação.''
Althoff citou o caso da agência de viagens SBTR, que em 1998, ano da Copa da França, vendeu à CBF serviços por RS$ 6,62 milhões.
O valor pago à agência subiu para RS$ 8 milhões em 1999 e para mais de US$ 16 milhões em 2000, apesar de não terem sido disputados torneios do nível do mundial nesses anos, segundo Althoff.
O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT) consultou o contador da CBF sobre o fato da entidade ter pago uma internação médica do presidente da federação do Rio de Janeiro, Eduardo Vianna.
Ferreira confirmou o pagamento, mas admitiu que ``não é normal esse procedimento.''
O contador foi convocado pela CPI em substituição a Ricardo Teixeira, que alegou problemas de saúde para não comparecer. O presidente da CPI, no entanto, duvida do argumento do presidente da CBF.
“Nos últimos dias, o senhor Ricardo Teixeira mostrou um vigor pouco comum, participou nos bastidores de atividades da CBF e participou de articulações políticas'', disse Dias. ``No meu modo de ver, (Teixeira) teria plenas condições de ser interrogado pela comissão.''
Althoff mostrou-se confiante na aprovação do relatório por unanimidade, mas o senador Gilvam Borges (PMDB-AP) adiantou que ele e outros membros da CPI farão um relatório alternativo.
Borges e outros senadores do PMDB vem assumindo a defesa da CBF na comissão investigadora.
A CPI do Futebol na Câmara dos Deputados viveu meses atrás uma situação semelhante, quando o presidente e o relator elaboraram um relatório, enquanto outros integrantes, ligados a federações de futebol, fizeram outro. Depois de muita confusão, nenhum dos relatórios foi aprovado.