São Paulo - Oscar Schmidt já resolveu -- vai encerrar sua carreira no basquete no ano que vem. Mas para quem imagina que com toda a paixão que tem pelo esporte, Oscar pode dar uma de Michael Jordan e voltar a jogar, o cestinha avisa que não há possibilidade disso acontecer.
``Decidi encerrar a carreira após esta temporada. Jogarei o Estadual e o Nacional, e deverei ficar mais um ano realizando amistosos em várias cidades do país, mas isso ainda não está definido'', disse o ala à Reuters. O Campeonato Nacional masculino começa no dia 27 de janeiro e vai até 23 de junho.
Michael Jordan voltou à NBA depois de ter deixado as quadras por duas vezes, mas vem sofrendo junto com sua nova equipe. O Washington Wizards chegou a acumular oito derrotas consecutivas no início desta temporada, a maior série negativa na carreira de Jordan.
``A volta de Michael Jordan foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para o basquete. Mas em relação a mim, não existe essa hipótese. Quero encerrar a carreira bem, sentindo-me ainda útil no Flamengo'', garantiu Oscar.
RECORDES
Aos 43 anos, idade em que a grande maioria dos que começaram a carreira com ele já viraram técnico ou até abandonaram de vez o basquete, Oscar continua batendo recordes.
Ele participou de cinco Olímpiadas e é o recordista de pontos em Jogos Olímpicos com 1093. O cestinha ultrapassou os mil pontos em partida contra a Croácia nos Jogos de Atlanta, em 1996, e teve seu uniforme e a bola do jogo autografada imortalizados no Hall da Fama do Museu de Springfield, nos Estados Unidos.
Ele encerrou sua participação na seleção brasileira em Atlanta com um total de 326 jogos e 7.693 pontos, mas não parou por aí.
No dia 27 de outubro, o ala tornou-se, segundo contagem não oficial, o maior cestinha da história do basquete ao chegar à marca de 46.744 pontos, batendo os 46.725 do pivô norte-americano Kareem Abdul Jabbar.
CHORO
Oscar dedicou toda a sua vida ao basquete. Começou aos 13 anos com um arremesso errado, que saía de baixo, o que foi corrigido por um antigo técnico.
Passou por clubes como Palmeiras, Sírio e Corinthians. Atualmente defende o Flamengo. No exterior, jogou pelo Caserta e Pavia, da Itália, e pelo espanhol Valladolid. Nas duas equipes italianas foi homenageado com a aposentadoria das camisas que usou.
``O que mais gosto de fazer na vida é jogar basquete. A minha vida e a de minha família foi em função do basquete. Adoro a rotina de treinos, as viagens, as partidas, a concentração com os companheiros'', explicou.
A marca registrada de Oscar, além de seus arremessos, é o choro. Várias imagens já flagraram o jogador se debulhando em lágrimas depois de conquistas ou derrotas.
``Sou uma pessoa muito emotiva, sempre chorei depois de belas vitórias, de derrotas ou perdas de títulos'', assume.
A conquista mais marcante para Oscar, que valeu muitas lágrimas, foi em 1987, quando o Brasil derrotou os EUA por 120 x 115 para ficar com o título do Pan-Americano de Indianápolis.
Aquela partida, a primeira derrota da história dos EUA jogando no país em um jogo oficial, marcou o início de uma nova era no basquete mundial. Depois desse jogo e de alguns outros resultados negativos que vieram em seguida, os norte-americanos exigiram a liberação da participação de profissionais em Olimpíadas e disputaram os Jogos de Barcelona, em 1992, com a primeira versão do ``Dream Team''.
Oscar marcou 46 pontos naquela partida, e emocionou o mundo ao se jogar no chão chorando quando o jogo terminou. Na hora do hino brasileiro, oscar cantou com a rede da cesta enrolada no pescoço.
``Com certeza o momento mais emocionante da minha carreira foi a vitória contra os EUA no Pan-Americano. Vencemos os americanos na casa deles e debaixo da torcida deles. E olha que estavam repletos de craques como o David Robinson'', relembra.
APOSENTADORIA
Apesar de já ter anunciado que vai parar de jogar no próximo ano, Oscar ainda faz planos para sua aposentadoria. Mas uma coisa é certa -- política nunca mais.
Em janeiro de 1997 ele assumiu o cargo de Secretário Municipal de Esportes da cidade de São Paulo, e depois foi convidado para disputar vaga para o Senado pela Coligação Viva São Paulo, liderada pelo PPB.
Ele recebeu 5.752.202 votos, mas não venceu. Desde então, garante que não vai tentar a sorte mais uma vez na política.
``Quero muito continuar ligado ao esporte, podendo implementar um projeto em alguma universidade. Mas é certo que não retomarei o caminho da política. Já me envolvi com isso e tive a certeza de que não era a minha praia'', garantiu.
Oscar diz que ainda não parou para pensar na possibilidade de tornar-se dirigente ou técnico, mas não descarta nada.
``É algo que de vez em quando vem à cabeça. Acredito que, na medida em que a hora de parar estiver chegando, vou me preocupar mais com isso'', explicou.
Por enquanto, Oscar só tem se preocupado em achar espaços em sua agenda. Ele tem sido cada vez mais requisitado para participar de programas de televisão e há duas semanas viajou para São Paulo, onde gravou especiais de fim de ano para o Altas Horas e o Domingão do Faustão, ambos da Globo.
Ele tem ainda convites para os programas de Ana Maria Braga, Hebe, Marília Gabriela, Programa Livre e Cartão Verde, entre outros.
Idolatria à parte, Oscar ainda tem um sonho. Antes de abandonar definitivamente as quadras, ele quer voltar às raízes e disputar um jogo na cidade onde nasceu, Natal, e no clube onde começou a jogar, em Brasília.
``Depois do encerramento do Nacional, haverão outros jogos em diversas cidades do Brasil. Quero jogar em Natal e no ginásio onde comecei, o Unidade Vizinhança'', terminou ele.