Santos - Fábio Costa não é homem de meias palavras. Já fazendo história no Santos pela incômoda sinceridade, o goleiro fala sobre os problemas que enfrentou no ano passado, critica a fornecedora de materiais esportivos do clube e revela mágoa ao dizer que recebeu poucas palavras de incentivo após a expulsão contra o Internacional, no Brasileirão de 2001.
Neste ano, o Santos trocou o treinador de goleiros. Saiu o Agnaldo Moreira, seu grande amigo. Você ficou surpreso?
Fábio Costa: No futebol, não se pode estranhar nada. A gente só fica chateado com a maneira que as coisas acontecem. Tiveram um mês para avisar o Agnaldo que ele não iria continuar. Assim, ele teria tempo de procurar outro clube. Ao invés disso, está desempregado. Ele foi uma pessoa que marcou muito a minha carreira.
É inevitável falar sobre os problemas que você enfrentou no ano passado (Fábio foi expulso contra o Inter e acabou sendo afastado). Até que ponto aquilo lhe afetou?
F: Acho que as coisas que aconteceram no final do ano passado foram boas para mim. Serviram para me mostrar quem são as pessoas em que posso confiar. Fiquei esperando palavras de carinho de algumas pessoas e nada.
Isso significa decepção com pessoas da sua convivência?
F: Pai de filho bonito todo mundo quer ser. Quando o jogador está bem, é fácil oferecer apoio. Quando está mal é que é a hora da verdade. Durante os últimos dois ou três meses, passei por muitos momentos difíceis e não recebi qualquer incentivo. As únicas pessoas que me procuraram para dar uma palavra de apoio foram Serginho (Chulapa), Agnaldo (Moreira) e o Evaldo Prudêncio (administrador do clube). Nunca vou esquecer as coisas pelas quais passei, especialmente após a expulsão contra o Guarani.
Com esse seu comportamento explosivo, você conseguiu também uma certa afinidade com a torcida. Como você vê essa situação?
F: Ninguém tem nada a falar sobre mim quando o assunto é qualidade técnica. Acho que quando conseguir controlar meu temperamento, vou ser quase perfeito como jogador. Graças a Deus, toda vez que aconteceram cobranças da torcida, eu não estava entre os criticados.
Voltando ao final do ano passado. Por que você apareceu certo dia para treinar de tênis?
F: Tinha sumido minha chuteira dentro do vestiário da Vila. Isso é uma sacanagem. Um clube como o Santos não pode ter problemas de material. Tive atritos com o presidente do clube por causa disso.
Que espécie de atritos?
F: Já aconteceu de eu chegar no jogo e não ter camisa apropriada para jogar. Na partida contra o Cruzeiro, estava chovendo muito e a Umbro só tinha entregado camisa de manga curta. Numa falta, a bola bateu no meu braço e espirrou. Estávamos brigando pela classificação. E se tomo o gol? Passei a usar a camisa da Umbro porque eles disseram que iam multar o Santos. A Umbro não deu a assistência que eu queria. Tinham o compromisso de mandar várias camisas diferentes para os jogos e não mandaram. No final, isso pesa. As pessoas precisam parar de pensar que jogador de futebol é robô. Nos chamam de mercenários, mas não sabem o que acontece no clube. Jogamos muitas vezes com o salário atrasado.
Você está com salários atrasados?
F: Prefiro não falar sobre esse assunto.
O Canindé disse que não brincava contigo porque tinha medo...
F: Eu sou um cara fechado. Sou pessoa de poucas amizades. União no futebol é uma coisa relativa. Em um grupo de jogadores, só existe se houver compreensão quanto ao jeito que o companheiro se comporta. Quem quiser ser meu amigo, tem que pensar da mesma forma que eu. Tem a frase do Freddy (Rincón) que diz: amigo não paga minhas contas. Amigo me paga um copo de cerveja no bar da esquina. Mas vai lá e pede a ele para comprar uma lata de leite pro teu filho pra ver o que acontece...