São Paulo - Grandes diferenças separam os dois esquiadores que vão representar o Brasil nas Olimpíadas de Inverno de Salt Lake City. Mirella Arnhold e Nikolai Hentsch aprenderam a gostar do esporte de maneiras diferentes, mas chegam aos Jogos com apenas 18 anos de idade.
Enquanto Mirella chorava aos quatro anos de idade porque tinha medo de esquiar e o pai queria que ela praticasse o esporte na Argentina, Nikolai já descia as montanhas geladas da Suíça, onde nasceu, há pelo menos dois.
``Sempre fui incentivada pelo meu pai, mas tinha medo. Só que fui me acostumando e acabei perdendo o receio. O que mais atrai no esqui é a sensação de liberdade, você esquece tudo, tranquiliza'', contou Mirella à Reuters poucas semanas antes de embarcar para Salt Lake City.
A esquiadora brasileira divide seu tempo de acordo com o calendário escolar. Estudando Administração Pública, ela acaba trocando o verão brasileiro para poder treinar na neve nas férias e enquanto freqüenta as aulas no Brasil faz treinamento físico.
``Ao longo de um ano, tive entre 12 e 14 semanas de treino para as Olimpíadas. Treino mais em janeiro por causa das férias e normalmente fico na França'', disse, explicando que é muito difícil retomar o ritmo dos treinos na neve depois de ficar tanto tempo afastada. ``Isso é o que mais atrapalha, e no primeiro dia é horrível. É complicado recuperar o ritmo''.
Já Hentsch pratica o esqui desde pequeno e está treinando para competir há pelo menos dois anos. Filho de pai suíço e mãe brasileira, ele viveu os primeiros 15 anos de vida na Suíça. Mesmo hoje, morando no Brasil, ele acaba passando mais tempo na Europa treinando.
``Nasci com o esqui. Não me lembro do tempo em que não estava esquiando. É como jogar futebol na rua no Brasil'', contou.
E é por causa da grande quantidade de esquiadores na Suíça que Hentsch prefere competir pelo Brasil, apesar de passar apenas cerca de quatro meses por ano no país, junto com a mãe que mora no Rio.
``A Suíça é como o Brasil no futebol, tomo mundo quer ser o melhor. Para estar entre os 10, 15 melhores, é preciso ter uma experiência de 12 anos. Escolhi o Brasil porque a competição para entrar na equipe é muito menor'', explicou.
Enquanto Mirella preocupa-se com as aulas -- quando ela voltar das Olimpíadas, no dia 25, a faculdade já terá recomeçado -, Arnhold ainda não sabe onde vai estudar.
``No Brasil eu teria muita dificuldade com o português porque estou há muito tempo fora. Cada vez que volto, preciso de umas duas semanas para me acostumar e quando voltar das Olimpíadas terei que ver o nível do meu português'', disse o atleta, que pretende estudar economia.
Indecisões à parte, nenhum dos dois alimenta muitas esperanças para os Jogos, cientes de que será muito difícil conquistar um bom resultado no Slalom, prova da qual vão participar.
``Não tenho expectativas para a competição. Quero fazer o meu melhor, terminar o percurso, não fazer feio. Só estou preocupada em descer bem'', admite Mirella.
A única certeza dela é que o esqui nunca vai deixar de fazer parte de sua vida.
``Deixar o esqui nunca, mas talvez eu não fique competindo, pois quero fazer carreira no Brasil'', garante Mirella, que será a porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de abertura dos Jogos, que acontece na sexta-feira.