Ayia Napa (Chipre) - O paraíso dos clubbers, Ayia Napa, mais conhecida por suas festas que varam as noites de verão -- as famosas raves -- é um imã para os jogadores de futebol, que tentam escapar do inverno rigoroso para poder treinar num clima mais agradável, se possível com sol.
Alguns dos melhores jogadores da Europa e da Ásia viajam para Chipre para treinar nos campos locais, dando ao turismo da ilha mediterrânea um muito bem recebido empurrãozinho entre os meses de janeiro e maio.
Os moradores locais exibem com orgulho uma lista dos times que mais parece um guia das principais equipes do leste europeu. CSKA Moscou, Legia Varsóvia, Estrela Vermelha de Belgrado e o Rapid Bucareste. Estes são apenas alguns dos times que visitaram Chipre nesta temporada.
Este mês, técnicos russos reuniram um grupo de cerca de 20 jogadores das categorias de base do CSKA Moscou e fizeram um forte treinamento nos gramados. Em outro campo, o técnico de um time da segunda divisão da Rússia passava instruções aos gritos para seus jogadores nos intervalos em que não estava assoprando seu apito.
``;Eles são forçados a trabalhar muito, arduamente'', disse o
responsável pela manutenção dos 15 campos que Ayia Napa tem alugado para 90 times diferentes nesta temporada.
``Eles estão aqui todo dia. Eles não conhecem férias ou finais de semana'', continuou.
O grande número de times que vai para a ilha é ótimo para um lugar cuja economia depende muito do turismo. Entre abril e setembro o movimento é muito grande, mas cai drasticamente nos meses seguintes, transformando muitos resorts em cidades fantasmas.
A presença dos times ajuda a compensar a situação de abandono de Ayia Napa durante os meses de inverno.
A praça principal de Ayia Napa, cheia de turistas bronzeados até a beira do mar durante o verão, é um ponto onde jogadores que seriam facilmente reconhecidos em outros lugares podem passear anonimamente. Os jogadores, em seus agasalhos de treino, passam desapercebidos pelos trabalhadores ocupados em renovar a faixada de seus bares e restaurantes para a próxima temporada.
``Em qualquer momento tem mais de 12 times na ilha'', disse Lakis Avraamides, que, além de ser um executivo de marketing e comentarista esportivo, ajudou a erguer o setor nos anos 1980.
``Isso dá continuidade à atividade turística e ajuda a comunidade local. Após outubro a chegada de turistas é mínima'', disse o prefeito de Ayia Napa, Varvara Pericleos.
Dois terços das dezenas de hotéis da ilha fecham durante o inverno. O terço restante trabalha unicamente com a atividade gerada pelos times visitantes, de acordo com o prefeito.
Por 20 libras esterlinas (37,3 euros) por time por hora, os comerciantes locais dizem que seus campos tem preços competitivos em comparação a outras localidades do mediterrâneo, como a Espanha e Portugal.
``É um quantia simbólica, que mal cobre nossos gastos'', disse Pericleos.
A maioria dos times chega ao Chipre sem ser anunciada, através de agentes de viagens especializados em turismo esportivo.
A seleção norte-coreana de futebol fez uma discreta visita em janeiro. Ficaram 15 dias para treinar na ilha e jogar quatro amistosos sem nenhuma divulgação ou publicidade.
Cada time estabelece suas regras. Os treinadores, por exemplo, não podem ser interrompidos em nenhum instante durante os treinos e alguns não gostam que haja espectadores. Um treinador parou o coletivo porque jogadores de outro time estavam observando.
Enquanto Ayia Napa continua sendo a opção da maioria dos times, resorts costeiros, como Paphos, Limassol e Larnaca, também passaram a oferecer instalações similares nos últimos anos.
``Eles fogem do inverno rigoroso e também têm a oportunidade de realizar jogos amistosos na ilha. Treinar é importante, mas também é preciso praticar futebol competitivo para manter o time firme e isso é possível aqui'', disse Avraamides, ex-jogador de Chipre.
Para Bogic Boglcevic, treinador do Zemunde Belgrado, da primeira divisão da Iugoslávia, Chipre é o melhor refúgio contra o rigoroso inverno da região dos Bálcãs.
Boglcevic está em Chipre pelo segundo ano consecutivo durante o intervalo entre temporadas da liga da Iugoslávia, que continua em março. O técnico afirma que o sol fez bem para seus jogadores.
``É um lugar bonito para se treinar. Belgrado é muito fria'',
disse à Reuters.
O treinador de goleiros Steven Mlic acrescenta: ``Os campos são muito bons, ano passado estavam ainda melhores. Choveu mais do que o normal este ano, mas os campos estão bons. Os jogadores gostam dos hotéis e dos restaurantes''.
Poucas pessoas, além da comunidade da Ayia Napa, aproveitam a oportunidade para ver alguns dos melhores jogadores do mundo.
Um grupo de garotos de oito anos de idade de Ayia Napa tomava sorvete enquanto torcia por Zenum, tentando esquecer a lavada que haviam sofrido de 13 x 1 contra um time de garotos da Nicósia, em um campo perto dali.
Um morador achou graça quando perguntado se os treinadores locais aproveitavam a oportunidade para pegar dicas dos técnicos que visitavam a ilha.
``Na verdade não. Eles já acham que sabem tudo''.