Quake 3 Test

Acabamos de assistir a um dos grandes momentos da história da Apple. Depois de anos amargando a falta de jogos importantes, justamente o mais esperado de todos saiu primeiro para Mac. Até meus colegas pecezistas da revista Magnet passaram semanas pagando pau para o Q3Test rodando gloriosamente num G3 azul. Cabem aqui três reparos.Primeiro: as versões do Q3Test para Windows e Linux já estão disponíveis, assim como um update da versão Mac. Segundo: a id Software insiste veementemente que o Q3Test não é beta nem demo do Quake 3 Arena. Terceiro: o lançamento do jogo final, seja lá quando for (em algum momento até o final do ano), será para as três plataformas simultaneamente.

Em time que está ganhando...

A id Software pertence ao primeiro time das empresas que escreveram a história dos videogames, com três produtos fundamentais: Wolfenstein 3D, Doom e Quake. Os três têm em comum o ponto de vista em primeira pessoa (na qual a tela corresponde ao que você enxergaria num mundo virtual em 3D), perfeitamente adequada a um jogo em que o objetivo primário é destruir o máximo de oponentes no menor tempo. O problema é que hoje o mercado está abarrotado de jogos de matança para todos os tipos de computadores e consoles de videogame. Como manter a posição de destaque? Com o Quake 3 Arena, a id deverá se limitar a preservar a essência do estilo do jogo e manter o seu acabamento a par da tecnologia do momento.

Tanto que o Q3Test é mais simples que o Quake 1 e o 2. Não há roteiro capenga a seguir, nem monstros burros em lugares pré-definidos para matar com táticas fáceis, nem armas parecidas que usam a mesma munição. O único objetivo do novo jogo é servir como arena para o confronto virtual de pessoas reais via rede local ou Internet. O tal do Deathmatch. Armas cabeludas, tiroteio desenfreado e atrocidades sem fim, num ritmo alucinante. Isso é tudo que interessa. E nisso, a prévia do Quake 3 não decepciona. Tudo nela é projetado para proporcionar satisfação irrefreada dos instintos homicidas dos jogadores.

O Mac primeiro, por favor

Alguns lances de sorte permitiram ao Mac ter seu Q3Test antes. O mais importante foi o atraso das versões para PC dos drivers OpenGL, softwares que proporcionam funções de vídeo 3D de forma consistente para um número crescente de programas e são responsáveis pelo o Quake 3 Arena estar sendo feito simultaneamente para três plataformas. Outra coisa que ajudou muito é a atual geração de Macs, que tem processadores parrudos e poucos modelos baseados em somente dois circuitos de vídeo, o ATI RAGE 128 (nos G3 azuis) e o ATI RAGE Pro (nos G3 beges e iMacs).

Para o teste foi um bom negócio ter, nos macmaníacos, um plantel de testadores não grande demais (imagine milhares de testadores de PC reclamando do mesmo bug) e com máquinas muito semelhantes (imagine milhares de testadores de PC reclamando de bugs completamente diferentes, causados pelas mais malucas configurações de hardware). Antes que você se entusiasme demais e já comece a baixar o Q3Test, é preciso avisar que, além de incompleto, ele é comparativamente lerdo e somente roda em Macs G3 com os chips de vídeo ATI já citados.

A versão final, promete a id, deverá ter rendimento muito melhor e poderá rodar bem em máquinas mais antigas. Mas o grande obstáculo mesmo são os 4 MB de memória de vídeo e 71 MB de RAM livre exigidos pelo jogo, coisas que nem todos os Macs recentes têm. (Você sabe que o seu Mac não tem memória de vídeo suficiente quando, na resolução 1024 x 768, ele mostra milhares de cores e não milhões.) Quando for pegar o instalador, deixe seu Mac fazendo isso de um dia para o outro: são 22 MB. (Para um software gratuito, até que não é tão ruim.) O instalador vem com versões atualizadas dos Sprockets, mas as extensões OpenGL precisam ser baixadas da Apple.

Atenção, isto não é um teste

No Q3Test existem apenas duas fases para jogar: uma no velho estilo "templo medieval", que serve para conexão via Internet, e outra num estilo "espacial-futurista", só para rede local. O seu Mac pode servir um jogo para outros computadores (veja uma lista de quem está jogando a qualquer momento em https://underworld.idsoftware.com/serverlist.html-ssi).

A fase "espacial" é a mais interessante: consiste em várias plataformas suspensas no espaço, que são alcançadas pulando-se sobre áreas sinalizadas de impulsão antigravitacional (bounce pads), o que também permite o combate em pleno ar.

A fase "medieval" não tem nada de novo, fora os arcos perfeitamente arredondados e as colunas perfeitamente cilíndricas. Em ambas as fases, a reaparição dos itens é muito rápida. O fim de cada combate pode ser por tempo (com direito a cronômetro na tela) ou quando alguém atinge determinado saldo de mortes (frags). Jogadores mais habilidosos podem estabelecer um limite (handicap) para a armadura e a munição máximas que podem obter. Outros recursos bacanas são a possibilidade de escolher a forma da mira e de ver o nome dos jogadores que passam pela sua frente.

Só há dois tipos físicos (skins) disponíveis para os jogadores no teste, mas a versão final deverá disponibilizar vários outros. As armas disponíveis no teste são: um punho de ferro eletrificado (gauntlet), a metralhadora (machine gun), a escopeta de cano duplo (shotgun), a pistola de plasma (plasma gun), o lançador de foguetes (rocket launcher) e uma arma de raios (railgun). As armas são muito similares às dos Quakes anteriores, e o railgun emite raios da cor escolhida pelo jogador. Os globos de saúde (health), as armaduras e o Quad Damage (multiplicador temporário de força) também são similares ao que já existia, só que tudo bem mais bonito. O que liga é o visual O Q3Test é, de todos os Quakes, o que tem mais opções visuais. Graças aos recursos do OpenGL, há uma variedade de efeitos que podem ser ativados ou desativados para atingir um equilíbrio entre o visual do jogo e a velocidade.

Embora a id alerte que o código não está otimizado, qualquer G3 produz taxas de animação ótimas. (Uma advertência: não mude a resolução, ou a sua tela ficará preta e você será obrigado a restartar à força.) Mas o verdadeiro show são os tiros. São simplesmente maravilhosos. Além do som incrementado, eles têm efeitos visuais chocantes até para quem já jogou Unreal. Os foguetes impressionam com seus rastros de fumaça translúcida, que se dissipa de forma convincente no ar. E os tiros deixam marcas nas paredes e no piso! O jogo "limpa" a arena, eliminando suavemente as marcas de tiros, as manchas de sangue e os restos de jogadores mortos. Não dá para causar danos ao cenário, ao estilo de outros jogos 3D, o que é uma pena. O engraçado é que você pode atirar num corpo caído no chão e despedaçá-lo - uma boa forma de sacanear um oponente que você acabou de matar. Curiosamente, algumas superfícies ficam marcadas pelos tiros e outras não, e há portais que mostram o que há do outro lado e outros que não mostram.Talvez essas discrepâncias sejam revisadas na versão final.

E aí, vale?

Pelo que pode ser visto no teste, o Quake 3 Arena não vai passar de uma atualização do jogo clássico. E daí? Tá perfeito! Só vê-lo rodando já desperta os baixos instintos de qualquer um. É a garantia da continuidade do gostoso vício da carnificina online por mais uns anos, talvez até que a id invente um "Quake Matrix" com uma interface cerebral por onde a gente possa entrar numa arena virtual e dar porrada nos amigos e inimigos sem ter que usar teclado e mouse. Melhor do que está, só assim.

Mario AV

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