O famoso teórico da guerra Clausewitz, já alertava sobre as dificuldades de se conquistar a Rússia. Sua vastidão, as poucas estradas e a determinação de lutar de seu povo, forçavam ao invasor a um assombroso desgaste. Num capítulo especial sobre os efeitos das marchas prolongadas, mostra como essas diminuem o potencial combativo de um exército. Ao penetrarem cada vez mais no solo russo, as forças alemãs começaram a sentir os efeitos destes fatores.
Agora não se tratava de conquistar pequenos países da Europa Ocidental e sim uma região que só em sua área européia, tinha mais de 5 milhões de quilômetros quadrados, duas vezes e meia superior a da Europa Ocidental. As linhas invasoras, ao se estenderem por mais de mil quilômetros, dificultavam o abastecimento e municiamento, assim como as tornavam vulneráveis ao ataque de guerrilheiros na retaguarda. Sendo o exército alemão essencialmente motorizado, havia necessidade constante de combustível e reposição de peças para torná-lo eficiente.
A resistência soviética aumentava de intensidade conforme os alemães se aproximavam de Moscou. O inverno de 1941 foi assaz precoce. O General Guderiam notou as primeiras nevascas na primeira quinzena de outubro. As estradas ficaram enlameadas diminuindo cada vez mais a capacidade de manobra das divisões panzer. Mesmo assim os alemães atingiram a periferia da capital soviética em novembro de 1941. A temperatura baixou terrivelmente, entre 20 e 25 graus abaixo de zero. Como esperavam o término da guerra para antes do inverno, foram surpreendidos sem vestuário apropriado.
1941 - Soldados alemães arrombando uma porta durante uma busca em aldeia russa - Foto: Getty Images
Hitler ordenou que os exércitos aguardassem a passagem do inverno em suas posições de assalto. A capital seria conquistada na primavera de 1942. É neste momento que, com auxílio de tropas siberianas, o Marechal Zukov inicia o contra-ataque na região de Moscou, surpreendendo os alemães, afastando-os em definitivo. O pânico das tropas contaminou todo alto-comando, fazendo com que Hitler afastasse uma série de generais e assumisse o controle direto da guerra. A ordem era resistir em suas posições. Percebeu que uma retirada em pleno inverno, como muitos generais desejavam, poderia se transformar numa catástrofe de enormes proporções, desmoralizando definitivamente suas tropas. Segundo alguns, esta foi uma das poucas ordens sensatas de Hitler.
Na primavera verão de 1942, os alemães retomaram a ofensiva nas regiões do Sul da Rússia. Toda a área do Mar Negro foi conquistada, incluindo o Cáucaso. Foi o "verão negro" da história do Exército Soviético. No entanto, era visível que os russos preparavam-se cada vez melhor para enfrentar os cercos dos blindados alemães. Tropas aguerridas estavam se forjando no transcorrer das batalhas. Apesar das enormes perdas, os soviéticos passaram a ser abastecidos com um equipamento mais farto e de melhor qualidade, destacando-se o tanque T-34 e os morteiros-foguetes katyushas.
Até os finais de 1941 caíram sobre o controle alemão 40% da população soviética, 41% de suas estradas de ferro, 38% do gado, 58% das siderurgias de aço, 60% do alumínio, 84% do açúcar, 38% dos campos cerealísticos, 63% do carbono e 60% do ferro. Apesar dessas conquistas nunca as baixas alemãs tinham sido posto fora de combate; 202.251 mortos, 725.642 feridos e 46.511 desaparecidos, perfazendo até fevereiro de 1942, 31% do total da força invasora.
1942 - Soldados alemães entram em subùrbio de Stalingrado - Foto: Getty Images