Todas as pessoas sonham e fazem isso várias vezes por noite. Muitas vezes, ao acordar, lembramos claramente do que vimos, do que passamos, como nos sentimos e quem estava no sonho. Mas é exatamente aí que surge uma interessante questão. Se os cegos de nascença nunca tiveram contato com a imagem visual, então, como são formados seus sonhos?
"Os sonhos são feitos, perceptivamente, de materiais capturados pelos órgãos dos sentidos recolhidos no dia anterior ao momento do sono. Se uma pessoa possui uma memória perceptiva visual, auditiva, tátil, olfativa e gustativa, todos estes elementos podem aparecer reconfigurados nos sonhos", diz Liliane Camargos, psicóloga e mestre em teoria psicanalítica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Por isso, segundo Liliane, as pessoas que já vieram ao mundo cegas sonham normalmente todas as noites usando as suas experiências. "As pessoas confundem muito o sonho com a percepção visual, por isso existe a dúvida se uma pessoa cega sonha. Isso acontece porque o sentido visual, para quem enxerga, se torna o mais utilizado e evidente, inclusive nos sonhos. Mas nada impede que uma pessoa com visão também sonhe sem imagens visuais".
No caso das pessoas que já nasceram cegas, seus sonhos são compostos por situações de diversos tipos, vividas e percebidas do modo como elas "veem" o mundo acordadas, esclarece ela. "Seus sonhos são formados por imagens perceptivas, não visuais, como imagens auditivas, táteis, olfativas e gustativas. Mesmo sem a imagem visual, a sensação que um cego de nascença tem ao sonhar é a mesma de uma pessoa que possui a visão".
E então surge outra dúvida. Será que uma pessoa que perdeu a visão sonha de modo diferente de uma pessoa que já nasceu cega? De acordo com Liliane, quando uma pessoa perde toda a visão, ela sonhará com imagens visuais por certo período. Mas com o tempo, tais imagens visuais irão se apagando de sua memória e ela passará a utilizar outros sentidos para sonhar.
"No caso de pessoas que possuem baixa visão, ou visão subnormal, elas sonharão assim como percebem o mundo acordadas, com imagens visuais incompletas", completa Liliane Camargos.