É assustador perceber o quanto palestinos e israelenses estão distantes em suas visões sobre quais seriam os termos de um acordo definitivo de paz para a região. Eles nem mesmo são capazes de sentar à mesma mesa para tentar reduzir a profundidade do precipício que só cresce entre dois vizinhos.
O embaixador palestino no Brasil, Musa Odeh, e o cônsul israelense em São Paulo, Medad Medina, falaram ao Terra após a conclusão da operação militar Muro de Defesa, na Cisjordânia. O cerco ao complexo de Mukata, em Ramalá, onde Arafat ficou confinado, estava encerrado, e os palestinos calculavam o tamanho da destruição deixada pelas tropas israelenses.
Eram dias de relativa calmaria, em que, com a diminuição da troca de retaliações, a possibilidade de uma avaliação racional do problema estava um pouco menos sufocada. Mesmo assim, Medina e Odeh discordam praticamente em tudo: as causas do conflito, a atuação da comunidade internacional, as possíveis ações para superar a onda de violência.
É verdade que os dois também têm visões comuns. Mas são semelhanças nada animadoras. Ambos culpam o inimigo por todos os problemas do Oriente Médio, acreditam ser grandes vítimas do sistema e demonstram uma preocupante incapacidade de perceber, ou pelo menos admitir publicamente, as aspirações e temores da outra parte.
O que fica claro é que a urgente retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza e Cisjordânia, acompanhada da inevitável criação de um estado palestino, parece ser o problema mais simples a resolver. Ou, sob um olhar menos otimista, é o que menos requer das profundas concessões que os dois lados terão de enfrentar se realmente quiserem firmar um acordo de paz. Pelo menos nesse ponto, parece haver consenso: a solução para o conflito está na implementação do conceito "dois povos, dois Estados".
Mas em vez de lidar com os cortes que inevitavelmente terão de ser feitos na própria carne para criar as condições do desfecho óbvio deste conflito - a coexistência de dois Estados - israelenses e palestinos parecem mais interessados em trocar sopapos e continuar entoando seus mantras favoritos: "ocupação, ocupação, ocupação" e "terrorismo, terrorismo, terrorismo". Refrões que têm muito mais apelo popular do que "desmantelamento de assentamentos", "controle dos radicais", "delimitação de fronteiras", "repressão ao terrorismo", "solução para os refugiados", "democratização e combate à corrupção".
Sérgio Gwercman/Redação Terra