Quatro voluntários franceses de serviços humanitários que estão bloqueados em Ramalá desde a invasão israelense, em 29 de março, estão fazendo um diário, que passam para amigos por e-mail. O relato é de "destruição, vandalismo, assassinatos e terror".
Alertados em 28 de março sobre a iminente invasão das tropas israelenses, Vincent, Theo, Anais e Chadia foram abastecer a despensa na padaria mais próxima. De acordo com seu relato, encontraram uma fila de 400 pessoas, da qual alguns partiam com oito quilos de pão.
Eles contam que no dia seguinte, data da invasão, "os israelenses posicionaram franco-atiradores no prédio em construção a 50 metros do nosso, na mesma calçada". Na casa de Claude, outra voluntária francesa, que vive nas imediações, "os militares arrombaram a porta do prédio atirando na fechadura. Em seguida, destruíram a porta dos apartamentos do mesmo modo, sem se preocupar com a possível presença de moradores".
De acordo com o relato, feito todas as noites, desde o dia 29, os únicos contatos com o exterior são feitos através do celular e da Internet. Às vezes, durante as breves interrupções do toque de recolher, os vizinhos fazem uma visita. "A cidade inteira foi pura e simplesmente destruída", escreveram no dia 30 de março.
Chadia, que conhece bem Khaled, um dos guarda-costas de Yasser Arafat, soube que ele "foi ferido na Mukata", o quartel-general do líder palestino, depois do assassinato de cinco membros da guarda pessoal de Arafat. "Levado horas mais tarde em uma ambulância, ele foi detido pelos mesmos israelenses, torturado e deixado na rua, onde moradores recolheram-no e o atenderam", contou.
As informações sobre outras cidades palestinas invadidas não são mais animadoras. De Nablus, a amiga Neila conta a eles que "todos os homens que moram no seu prédio foram separados das mulheres e das crianças, e tiveram que ficar nus no frio durante parte da noite". Em Jenin, "idosos foram assassinados a sangue frio diante de parentes".
"As palavras começam a faltar para classificar os atos dos israelenses (...) relendo nossos textos, temos a impressão de que a Idade Média voltou". Isolados, estes jovens franceses se dizem muito sensíveis aos e-mails de apoio recebidos de amigos ou desconhecidos e parecem prever que serão retirados do local em breve.