Onde é minha casa? É esse o questionamento que a norte-americana Abra Kahan faz em seu blog na Internet. Em sua página, um diário começado na última segunda-feira, ela busca responder a si mesma se deve ficar em Israel ou voltar para os Estados Unidos. Há cinco anos, ela foi para Israel estudar, e ainda não conseguiu se decidir sobre onde é realmente a sua casa, em grande parte por causa da insegurança que sente em Jerusalém.
"Tenho pânico de andar de ônibus em Israel hoje em dia. Também sinto medo em praticamente qualquer lugar público: shoppings, cafés, armazéns. Já Mitch (meu marido), fica tranqüilo. Ele se conforta com as estatísticas que demonstram ser pequenas as chances de se ser vítima de uma explosão (que parecem ser menores do que as chances de se envolver em um acidente de trânsito). Eu, no entanto, não me consolo muito com essa visão tão racional", escreveu ela no dia 9.
Abra conta ainda que sente como se todos os amigos e conhecidos estivessem sempre cuidando uns dos outros, preocupando-se em saber se todos estão bem, numa espécie de ligação permanente. "Não é que nos EUA nós não nos preocupássemos com o bem estar uns dos outros, mas lá, isso era uma questão individual. Aqui, me parece que estamos todos enfrentando essa crise nacional em conjunto."
Há três anos, ela chegou a voltar para os Estados Unidos para terminar sua dissertação de PhD. Foi quando seu namorado norte-americano se mudou para Israel, o que a fez atravessar o oceano uma vez mais. "Achei que ficaríamos noivos e eu o convenceria a voltar comigo para os EUA. Isso foi dois anos atrás, e ainda estamos aqui", escreveu Abra no dia 8.
O namorado que a levou de volta para Israel agora é seu marido. Programador de computadores, ele está desempregado há meses. Ela também está sem trabalhar, à espera da resposta de universidades israelenses e norte-americanas para sua inscrição num pós-doutorado. E a incerteza de "viver no limbo", provisoriamente, sem uma máquina de lavar, sem estantes de livros e quadros nas paredes, é o que mais angustia a estudante. Ela quer se fixar em algum lugar, mas não consegue ter certeza de que é na violenta Israel que ela deseja fazê-lo.
Abra admite que teme pela sua vida e a de seu marido, mas sente culpa quando pensa em deixar o país: "Temos um lar confortável para onde voltar, mas a maioria das pessoas aqui, não. Para elas, aqui é um lar, é o tudo o que têm. Eu estou nesse projeto nacional ao lado deles? Ou não?" Ontem, ela disse estar envergonhada de si mesmo por acordar na esperança de não ser aceita em qualquer das duas universidades para que se candidatou em Israel. "Assim, nossa decisão terá sido feita, e poderemos evitar os questionamentos existenciais sobre onde devemos contruir a nossa vida."
O endereço da página de Abra é www.whereshome.blogspot.com