Não há notícia de uma rebelião tão grande registrada na história penal brasileira. Cerca de 25 mil detentos espalhados em todo o Estado de São Paulo se rebelaram por mais de oito horas em um protesto organizado pelo Primeiro Comando da Capital, quadrilha que age dentro das penitenciárias paulistas.
No Carandiru, maior penitenciária da América Latina e segunda maior cadeia do mundo, mais de oito mil presidiários fizeram mais de sete mil pessoas como reféns. Entre os reféns, estavam perto de 1750 crianças, diversos agentes penitenciários e até mesmo a cantora Simony que, grávida, foi visitar o marido, o rapper Afro-X.
A rebelião começou por volta das 13h e foi o estopim para os outros motins que se espalharam por todo o Estado. Depois do Carandiru, as informações de outras rebeliões foram começando no interior de São Paulo e, por várias horas, a polícia, a secretaria de Segurança Pública e a secretaria das Administrações Penitenciárias deram números desencontrados sobre o número de reféns ou de cadeias rebeladas.
Perto das 17h30, cerca de 200 soldados da Tropa de Choque começaram a ocupação dos pátios do presídio, mas não chegaram a invadir os pavilhões. O único pavilhão ocupado até a madrugada de segunda-feira foi o do hospital, onde foram libertados cerca de 40 reféns, muitos deles com problemas de saúde. Pelo menos três presos foram mortos, de acordo com a secretaria da Segurança Pública, mas há informações que há detentos assassinatos no Pavilhão 2, ainda sob o controle dos rebelados.
Logo que as primeiras notícias de uma rebelião generalizada no Complexo do Carandiru foram divulgadas, os parentes de detentos começaram a se reunir na porta do presídio com cartazes pedindo paz e gritando "assassinos" para os policiais que faziam a segurança do lado da fora da detenção. Bombas de gás lacrimogêneo foram usadas pela polícia para controlar a população.
Invasão - Durante a madrugada, cerca de 50 reféns deixaram o presídio e muitos receberam cuidados médicos e psicológicos. Alguns chegaram a afirmar que não eram mantidos como reféns e que estariam no presídio apenas para evitar uma possível invasão dos policiais.
A Tropa de Choque, no entanto, chegou a invadir outro presídio na capital paulista, o Centro de Detenção Provisória do Belém, onde dois detentos foram encontrados mortos pelos próprios presos. Fogo e fumaça atrapalharam a invasão da PM.
Massacre em 1992 - Há quase nove anos, a Tropa de Choque da Polícia Militar invadiu o Carandiru para acabar com uma rebelião no Pavilhão 9. A invasão resultou na morte de 111 detentos, o que gerou críticas de entidades de direitos humanos contra o excesso de violência dos policiais.
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Redação Terra
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