Catraieiro

ameaça acampar em ponte

Hermano Freitas, direto do Oiapoque (AP)

Uma centena de trabalhadores acampados na ponte Binacional com as respectivas famílias e os animais domésticos. Esta é a promessa que faz o presidente da classe dos catraieiros do Oiapoque (Comfcoi), José Ribamar de Sousa Brito, mais conhecido como Girico, caso não sejam atendidas as reivindicações para compensar os alegados prejuízos que a categoria terá com a ligação rodoviária do Brasil com a Guiana Francesa.

Girico: não vamos permitir que nos deixem sem renda. Foto: Fernando Borges/Terra

Pelo trajeto, cobram de R$ 10 a R$ 15 ou de 5 a 10 Euros, se o cliente pagar na moeda do país vizinho
Catraieiros são barqueiros que utilizam a catraia, ou voadeira, uma espécie de lancha de alumínio. Eles ganham a vida fazendo o transporte de barco entre o Oiapoque e Saint Georges, cidade do lado francês. Pelo trajeto, realizado em esquema de lotação – até 15 passageiros por barco, dependendo do tamanho – cobram de R$ 10 a R$ 15 ou de 5 a 10 euros, se o cliente pagar na moeda do país vizinho.

Girico afirma que cada um dos 124 catraieiros cadastrados – 147 homens, segundo outras pessoas ligadas à classe – arrecadam todos os dias R$ 100, o que mensalmente dá R$ 3 mil, já descontados custos de combustível e de filiação à cooperativa. Para permitir a inauguração da ponte, exigem uma indenização de R$ 72 mil por catraireiro em uma parcela única.Próxima página
"Não vamos permitir que nos deixem sem nossa fonte de renda e sem alternativa. Caso nossas demandas não sejam atendidas, acamparemos com nossas mulheres, crianças e até animais domésticos sobre a ponte”, disse Girico. Além da indenização, os barqueiros pleiteiam qualificação profissional. De acordo com Girico, a maioria dos homens deseja manter seus barcos e trabalhar na pesca. Outros preferem a agropecuária. Outros ainda pretendem fazer o transporte para o outro país em transporte alternativo por van.
O projeto de qualificação profissional tem o apoio do Ministério do Trabalho e da prefeitura da cidade. O prefeito Raimundo Agnaldo Rocha (PP), ele próprio um ex-catraieiro, diz que a qualificação profissional dos catraieiros ficaria a cargo do Sebrae. “Faremos inicialmente um estudo de vocação. Alguns querem ser pescadores, mas outros querem trabalhar com turismo na forma de vans. Estudamos esta possibilidade”, disse.
Informações da Comfcoi indicam que os catraieiros gastam R$ 4,8 milhões no consumo de combustível. Juntos, eles têm investidos R$ 3,1 milhões em equipamentos. Os impostos que eles pagam somariam R$ 800 mil ao ano em combustível, fora o custo com a manutenção das voadeiras.

Homens, mulheres, crianças, animais domésticos; tudo será usado para impedir inauguração. Vídeo: Fernando Borges/Terra

Faremos inicialmente um estudo de vocação. Alguns querem ser pescadores, mas outros querem trabalhar com turismo na forma de vans

Raimundo Agnaldo Rocha, Prefeito do Oiapoque