A Índia desconhecida
Henry Daniel Ajl
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Encantadores de Serpentes.
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A essência desta civilização milenar está muito distante da capital Délhi ou do Taj Mahal - de longe, o mais famoso e visitado ponto turístico do país. A verdadeira Índia esconde-se nos pequenos vilarejos espalhados pelo deserto do Rajastão, nos monastérios localizados nos profundos vales que cortam o Himalaya, nos barcos que transitam pelos canais de Kerala, nos rituais de purificação feitos às margens do Rio Gânges, na sacra Varanasi, e no caos que comanda as grandes cidades. Desvendar o subcontinente indiano requer tempo e, acima de tudo, disposição. A Índia possui o mais extenso sistema ferroviário do mundo, legado do secular domínio britânico. Na há melhor maneira de conhecer o estilo de vida indiano do que viajar de trem. É no interior do vagão que temos a oportunidade de aprender as primeiras palavras em hindi ao tentarmos nos comunicar com os demais passageiros. É lá que podemos observar o incrível caleidoscópio religioso indiano, composto de budistas, hindus, muçulmanos, sikhs, jainistas, judeus, cristãos e até zoroastristas. É no trem que observamos costumes e que percebemos o tradicional sistema de castas (espécie de classe social) que ainda hoje rege a sociedade indiana. De trem - e de ônibus - alcancei o sagrado vilarejo de Pushkar (um verdadeiro oásis de tranqüilidade em meio ao caos das cidades de Jaipur e Ajmer), no coração do Rajastão. Diariamente, ao nascer do sol, peregrinos dos mais distantes pontos do subcontinente praticam rituais de purificação às margens do lago sagrado. Tive a sorte de estar em Pushkar durante o Holi, festival nacional das cores, quando jovens de todas as idades saem às ruas para se pintar em animadas batalhas. Nos barulhentos mercados, vende-se de tudo, de incensos para os rituais religiosos a calças Levi´s made in China. O Rajastão é uma das províncias mais pobres e áridas do país, mas o patrimônio cultural da região é inestimável. Palácios cinematográficos (antigas residência dos maharajas) podem ser visitados. A tradicional figura dos Rajputs, respeitados guerreiros medievais, ainda pode ser reconhecida nas vestes masculinas. As cores vivas dos sarees (espécie de túnica feminina) contrastam com o tom pastel do deserto, em uma quase miragem.
Henry Daniel Ajl
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