O
Retorno do Rei vira case bem-sucedido de
como se criar um épico ao mesmo em que se produz
uma máquina de fazer dinheiro
Silvia
Marconato
|
Divulgação |
Para os fãs
da obra do escritor
J.R.R. Tolkien, três
anos de espera para
ver o grande final
da saga de Frodo
e seus amigos no
filme O Senhor
dos Anéis – O
Retorno do Rei pareceu
uma eternidade. Mas
não foram
só os fanáticos
pela história
publicada em 1954 – e
que demorou 16 anos
para ser escrita
- que aguardavam
ansiosos este momento.
Tinha tudo para ser
um excelente projeto,
mas, também,
tudo para ser um estrondoso
fracasso a adaptação
da obra de mais de
1000 páginas
para os cinemas. Ao
aceitar o desafio de
transformar a trilogia
em linguagem cinematográfica,
o diretor e roteirista
Peter Jackson não
imaginava o tamanho
de sua tarefa. “Lembro-me
de me perguntar, quando
as coisas ficavam especialmente
difíceis, se
não seria melhor
eu estar fazendo outra
coisa no lugar desta
saga. E a resposta
era sempre não”,
disse.
A certeza de ter escolhido
o caminho certo é fruto
do resultado de sete
anos de trabalho árduo,
dois anos de pré-produção,
274 dias de filmagens
e três anos de
pós-produção.
No entanto, talvez
o maior mérito
de Peter seja sua habilidade
em ser um bom articulador.
Ao convencer a New
Line-Warner a rodar
os três filmes
de uma só vez – a
primeira experiência
deste tipo na História
do cinema –,
ele conseguiu baratear
os custos de uma superprodução,
unir os astros do filme
e contar um enredo
tão difícil
e complexo de tal forma
que, se colocadas juntas,
as três produções
parecessem uma só.
Outro mérito
de Peter foi ser elogiado
pelos milhares de fãs
por sua preocupação
em ser fiel à obra
do escritor, mas por
também conseguir
atrair a atenção
do público
a ponto de fazer com
que somente os
dois primeiros filmes
já tenham acumulado
um ganho na ordem de
US$ 1,8 bilhão.
O Retorno
do Rei
Além de ser o último capítulo
de uma dolorosa luta para vencer o mal, O Retorno do
Rei é o mais bem acabado dos filmes da série,
apesar de ser um pouco mais longo do que deveria. São
quase 3h30 de ação e, como nos outros
episódios,
recheado de belíssimas paisagens da Nova Zelândia – ou
melhor, da Terra-Média.
A jornada está chegando
ao fim. Frodo, ao lado
de seu fiel amigo Sam
e do pegajoso Gollum,
continua sua infindável
peregrinação
para chegar até o
vulcão das terras
de Mordor e destruir
o anel. Em contrapartida,
Sauron se prepara para
o grande confronto
criando mais de 10
mil orcs.
É neste terceiro
episódio que
todas as histórias
se cruzam, que todos
os personagens se modificam,
aprendendo ou ensinando
alguma coisa com a
dor, o amor e a amizade.
Enquanto Gandalf tenta
vencer seus próprios
receios, Aragorn tem
a difícil tarefa
de convencer a si mesmo
de que é digno
e herdeiro legítimo
da coroa real.
Todo o roteiro é entrecortado
por diálogos
que ambientam a história
e conduzem o espectador
através das
narrativas. O trabalho
de edição
foi bem executado a
ponto dos fãs
não sentirem
a falta de Saruman
sendo completamente
derrotado. O ator Christopher
Lee nem aparece no
longa, mas seu nome
está nos créditos
finais.
Papel Principal
Apesar do filme ter como peça central a ascensão
de Aragorn ao trono de Gondor e de ser, talvez, o personagem
mais íntegro de toda a trama porque não
se rende ao poder do anel, Sam é a peça-chave.
Sem ele, Frodo não completaria a sua jornada.
Sam é a prova
de que a amizade sincera,
o amor fraternal e
a esperança
podem mover o mundo,
por mais que ninguém
acredite que possa
ser possível.
A atuação
de Sean Astin também
contribui para que
o pequeno hobbit ganhe
destaque. O ator é primoroso
e consegue evitar que
as demonstrações
de afeto do jardineiro
não pareçam
piegas ou forçadas.
Além disso,
não tenta roubar
o papel de Elijah Wood,
ele apenas "levanta
a bola" e sabe tirar
proveito
de cada tomada.
O Poder da
Mulher
Tolkien conseguiu construir personagens densos, complexos
e que foram se mostrando ao leitor a cada nova página,
mas o toque sutil de Jackson na versão digital
pôde ser sentido na personagem Éowyn,
interpretada por Miranda Otto.
A nobre mulher é sobrinha
do rei Théoden
e não se conforma
de ver sua família
e seu povo destruídos
pelo Mal. No livro,
ela vai para a guerra
e luta de igual para
igual com todos os
outros, mas no filme
o papel de Éowyn
cresce. Sua feminilidade
ganha ainda mais importância
ao se deparar com o
chefe dos Nazgul.
As mulheres deliram
com
sua participação
e os homens atestam
seu poder e coragem.
Tolkien e
Jackson
Se tivessem nascido à mesma época, Tolkien
e Jackson talvez não tivessem feito tanto sucesso
juntos.
Os dois têm em comum a perseverança, a
paixão e o poder da palavra.
Tolkien acredita
no ser humano acima de
tudo e na certeza de
que o mal até pode
ser mais forte que
o bem, mas que a união,
a solidariedade e a
fé vencem qualquer
batalha. Jackson, por
sua vez, soube recriar
o mundo de
Tolkien e torná-lo
atual. Conseguiu, acima
de tudo, fazer história,
criar um épico
e transformou o sonho
do velho escritor em
uma máquina
de fazer dinheiro.
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