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Primeiro tratamento do roteiro
Dezembro de 1995

CENA 1
"AMANHECER" (Créditos iniciais - Bloco 1)
EXTERIOR. PORTO ALEGRE - DIA

Manhã de março em Porto Alegre. O sol nascente num céu sem nuvens prenuncia mais um dia quente de verão. A cidade, vista de longe, com seu perfil refletido nas águas do rio Guaíba, está envolta numa bruma azulada. Os prédios, ainda adormecidos, pouco a pouco ganham vida e calor.

Um ônibus cruza a avenida Oswaldo Aranha, atravessando as longas sombras das palmeiras e espalhando fumaça preta e barulho excessivo pela avenida ainda sonolenta. Um mendigo barbudo ronca na escadaria do Instituto de Educação, acompanhado por uma cadela de cor e raça indefinidas, mas visivelmente prenha. O sol continua a subir e atinge uma janela do quarto andar de um edifício de classe média.

CENA 2
"DESPERTAR" (Créditos iniciais - Bloco 2)
INT. APTO. DE JÚLIO/QUARTO DE CASAL - DIA

Pela estreita fresta deixada na veneziana da janela, entra o primeiro raio de sol, que ilumina uma cama de casal. Júlio, 30 anos, está dormindo ao lado de sua esposa Márcia, 25 anos. Um lençol cobre parcialmente os dois corpos. Um pequeno despertador eletrônico marca 6h29m. O mostrador de cristal-líquido muda para 6h30m e um zumbido intermitente é acionado. Júlio abre os olhos, levanta o tronco, estende o braço e aperta um botão do despertador, interrompendo o zumbido. Meio tonto de sono, levanta e sai do quarto. Márcia continua dormindo.

CENA 3
"ESPELHO" (CRÉD. INICIAIS - BLOCO 3)
INT. APTO. DE JÚLIO/BANHEIRO - DIA

Júlio entra no banheiro, acende a luz e pára na frente da pia. Abre o pequeno armário (cuja tampa é um espelho) e tira dali um pincel, um tubo de creme de barba e um aparelho descartável. Quando fecha o armário, olha pela primeira vez para o próprio rosto, que está bastante queimado pelo sol e com uma barba de pelo menos uma semana. Olha para cima do armário, procurando alguma coisa, e vê que não há nada ali. Pensa por um instante e sai do banheiro.



CENA 4
"O RÁDIO" (CRÉD. INICIAIS - BLOCO 4) INT. APTO. DE JÚLIO/SALA - DIA
Júlio entra na sala, ainda semi-obscura e muito desarrumada. Jogada sobre o sofá, uma coleção de objetos de praia: guarda-sol, esteira, um bronzedor e uma bóia salva-vidas de criança. No chão, duas malas abertas, cheias de roupas. Júlio olha em volta e localiza uma sacola de pano perto da porta da cozinha. Abre a sacola e tira dali um rádio-de-pilhas de tamanho médio. Sai da sala.

CENA 5
"PROGRAMA 1/CHUTE NA SANTA" (CRÉD.INICIAIS - BLOCO 5) INT. APTO. DE JÚLIO/BANHEIRO - DIA
A mão de Júlio coloca o rádio sobre o armário do banheiro. Depois liga o rádio e gira o botão de volume. Ouvimos os locutores enquanto Júlio passa creme de barba no rosto e começa a escanhoar-se, com alguma dificuldade.

ROGÉRIO (off)
...esse ato impensado, insensato. Porque essa é a melhor interpretação que pode ser dada ao que aconteceu, não acha, Flávio? Ou será que isso é tudo planejado, tudo muito bem arquitetado, justamente para alcançar essa repercussão toda?

FLÁVIO (off) Olha, Rogério, eu prefiro pensar que foi uma coisa isolada, uma atitude individual desse pastor. Porque senão essa seita, essa igreja, estaria entrando num confronto muito grave. O Brasil ainda é um país predominantemente católico.

Tratamentos do roteiro

Último Tratamento - Maio de 1999

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