São Paulo - A Bolívia é o adversário ideal para que o Brasil consiga um resultado que faça diminuir a frustração causada pela derrota por 3 a 0 contra o Chile. Penúltima colocada nas Eliminatórias, com cinco pontos conseguidos em sete jogos, a Seleção Boliviana vive uma crise que transcende a questão técnica, passando pela econômica.
A Federação Boliviana deve US$ 4 milhões a credores que variam de jogadores a agentes de viagem. Para viajar até Quito, no jogo de quarta-feira, a Federação Boliviana entrou em acordo com os equatorianos. Os donos da casa se responsabilizaram por todos os gastos bolivianos com viagem e hospedagem em troca da reciprocidade no jogo do segundo turno.
Para fugir dessa situação falimentar, os bolivianos pediram empréstimo à Fifa e negociam um adiantamento de cotas de televisão com a PSN. Se nada for conseguido, tentarão acordo semelhante com o Brasil.
"Isso seria terrível para a Federação. Os gastos do Brasil são muito maiores. A Bolívia leva sua delegação em menos de um avião. O Brasil traz dois, não haveria dinheiro para isso", diz o jornalista Jorge Jove, do periódico La Razón.
Guido Añez, vice-presidente da Federação Boliviana, comanda uma cruzada pela redução de salários de Carlos Aragonés e dos jogadores. Aragonés recebe US$ 19 mil por mês - menos que Dario Pereyra no Guarani. É o segundo técnico mais barato da história boliviana, superado apenas por Dusan Draskovic, que recebia US$ 10 mil.
"Há uma crise no país e os jogadores não podem viver longe dela. É necessário jogar apenas com amor a camisa nesse momento", afirma Añez.
E o dinheiro? Os jogadores até aceitam conversar sobre isso, desde que recebam os US$ 69 mil que a Federação lhes deve. Outros, como o atacante Álvaro Peña, que fez o segundo gol na vitória contra o Brasil em 93 e nunca foi chamado por Aragonés, se oferecem para jogar de graça. "E pensar que pagaram US$ 1 milhão por ano para o antigo técnico, Hector Veira, um sujeito que detesta trabalhar e não acrescentou nada ao nosso futebol", lamenta Ernesto Murillo, editor de La Razón.
Não há mais espaço para luxos como gastar US$ 17 mil a cada vez que Erwin "Platini" Sanchez deixa o Boavista de Portugal para se juntar à Seleção.
Mesmo porque ele, durante a partida contra a Colômbia, em La Paz, agrediu o árbitro peruano Jose Argaña e foi suspenso por seis jogos.
Há uma única certeza na Bolívia: a Seleção está fora do Mundial/2002. O que se discute é qual a melhor maneira de fazer um papel digno, ultrapassando os 17 pontos que foram conseguidos na última Eliminatória. Alfredo Salazar, presidente do tradicional Wilstermann, propõe que sejam convocados jogadores na faixa de 20 anos para jogos fora do país, e jogadores mais velhos para as partidas em La Paz.
Aragonés não sabe se mantém seu projeto de renovação com jovens como Calustro e Galindo, que têm decepcionado - ou se recorre a velhas figuaras carimbadas como Etcheverry e Moreno, que depois da classificação para o Mundial de 94 nunca conseguiram bons resultados. Ele adoraria ter os problemas que tiram o sono de Luxemburgo.