São Paulo- Enquanto os clubes de São Paulo enxugam a folha de pagamento e dispensam os ídolos, a cerca de 700 quilômetros da capital uma cidade mostra estar em direção contrária. Em Belo Horizonte, a torcida não convive com a infelicidade de ver seus principais jogadores serem negociados. Ao contrário, Atlético e Cruzeiro seguram com afinco suas estrelas.
Campeão estadual e vice do 'Brasileiro' de 99, o Atlético de Minas manteve a base da última temporada - perdeu somente Belletti e Robert. Para compensar, buscou Ramon e Cleisson no começo do ano e, agora, reintegrou o atacante Valdir, devolvido pelo Santos. O rival Cruzeiro foi ainda mais incisivo: levou Oseás, Cléber, Cris, Sorín, Viveros, Jackson e repatriou Fábio Júnior.
Toda essa satisfação aos torcedores tem preço. O medalhão atleticano Guilherme passou a ganhar R$ 180 mil - valor que agora está fora dos padrões paulistanos. Seus companheiros de ataque também custam alto: Marques recebe R$ 140 mil e Valdir, na reserva, R$ 90. Ramon embolsa cerca de R$ 100 mil e R$ 60 mil vão para Velloso. A alucinação é tanta que Emerson, terceiro goleiro, fatura R$ 30 mil.
"Seguramos, porque queríamos um grupo forte. Mas fiz isso na coragem", confessou Nélio Brant, presidente do Atlético. Sem parceria e lidando com uma receita abaixo da despesa, ele revela que sua estratégia é agir como um "louco". "Não queria que fosse assim, só que é a verdade. Faço o máximo para montar boas equipes, porém já aviso que, no final do ano, vou precisar vender. É uma questão de sobrevivênvia." O déficit mensal é de R$ 1,5 milhão.
A situação do Cruzeiro é parecida: o time é quase todo formado por estrelas, que elevam a folha de pagamento. Müller ganha R$ 140 mil, mesmo valor que Sorin. Os ex-palmeirenses Cléber e Oséas recebem, respectivamente, R$ 100 e R$ 90 mil. André, Ricardinho e Viveros têm salários em torno de R$ 80 mil. O mais caro é Fábio Júnior que, para retornar da Itália, exigiu R$ 190 mil. A diferença é que as contas não estão no vermelho.
Ao contrário do Atlético, a diretoria do Cruzeiro encontrou sua "fórmula da multiplicação". Além do respaldo da Hicks Muse e da prática de não gastar mais do que arrecada, o vice-presidente Alvimar Perrella explica que a tática é apostar nas categorias de base e comprar jogadores baratos. "Eles se valorizam e, quando vendemos, é só contabilizar o lucro. Assim, fazemos caixa para cobrir as despesas". A folha de pagamento é de R$ 1,7 milhão por mês.