Rio - Bastaram 30 minutos de depoimento ao delegado da Polícia Federal Victor Hugo Poubel, no Aeroporto de Galeão, para que o técnico da Seleção Brasileira Wanderley Luxemburgo - seguindo conselho de seu advogado, Michel Assef -, assumisse que, na verdade, é três anos mais moço do que sempre revelou. Para escapar da acusação de falsidade ideológica, Luxemburgo disse que tem a mesma idade que consta nos seus documentos: 45 anos.
"Se houve falsificação, ele é vítima", dizia o advogado Assef, explicando que orientou seu cliente a "assumir" que tem 45 anos. De qualquer forma, uma vistoria mais minuciosa nos documentos do técnico ficará para depois da Olimpíada. Ontem, Luxemburgo queria sair de mansinho e fugia dos repórteres no aeroporto do Galeão, quando Ricardo Teixeira o chamou a um canto e cochichou-lhe alguma coisa. Então, o técnico caminhou até os jornalistas, mas avisou que só responderia questões relativas a futebol. Um repórter insistiu: "Quantos anos você tem?". Luxemburgo enfatizou: "Não vou falar!"
Mas respondeu se não estava arrependido de não levar Romário à Olimpíada:
"Não, conservei com ele e expliquei que ele será muito importante para classificar o Brasil para a Copa. Já tínhamos decidido não levar jogadores com mais de 23 anos e ele, infelizmente, já tem 34".
"Então o Romário já está confirmado para a partida contra a Venezuela?", foi outra pergunta. "Não vou falar nisso, porque agora a minha preocupação é buscar o ouro olímpico. As pessoas podem esperar que vamos buscar".
O técnico ainda analisou a fácil vitória sobre a Bolívia, dizendo que "ela foi importante para o Brasil voltar a ter autoconfiança. Estou feliz e vamos ganhando jogo a jogo", completou.
Após depor na Polícia Federal, Luxemburgo embarcou no jatinho para Buenos Aires, acompanhado de Alex, Ronaldinho Gaúcho e Athirson.
O clima estava bem mais tenso no sábado, quando o técnico da Seleção esteve bem próximo de ser demitido do cargo, não por maus resultados da equipe, mas por falsidade ideológica.
A dúvida: ele é "gato"? - Luxemburgo é acusado de ter adulterado a idade, ser um "gato" na linguagem do futebol. O escândalo caiu como uma bomba no Hotel Intercontinental, em São Conrado, no Rio de Janeiro, onde a seleção se concentrou. A de sábado foi uma longa noite de negociações e desolação.
Os problemas começaram no final da tarde, por volta das 16 horas. O técnico foi informado pela reportagem do JT da nova denúncia. "O que aconteceu dessa vez?" perguntou. "A revista Época já está nas bancas acusando você de ter falsificado a data de nascimento." Preocupado, Luxemburgo desabafou: "Mais essa, querem me crucificar. Falta o quê? Me lincharem?"
A acusação: Wanderley Luxemburgo da Silva nasceu no dia 10 de maio de 1952.
Na cédula de identidade, emitida pelo Instituto Félix Pacheco, consta como data de nascimento 10 de maio de 1955.
"Nunca escondi de ninguém que tenho 48 anos", comentou então. Segundo pessoas próximas, a adulteração aconteceu quando ele era amador do Botafogo do Rio. "Na década de 60, o Neca (supervisor do clube) fazia `gato' de todo mundo. Podem procurar nos registros do clube que você encontrarão", revelou um amigo do técnico.
Alerta - Nervoso, Luxemburgo tomava café quando surgiu no salão o locutor Galvão Bueno, da TV Globo. "Chefe, venha cá. Precisamos conversar." Foram cinco minutos de conversa reservada.
Luxemburgo voltou para a mesa ainda mais tenso. Havia sido informado pelo locutor que a denúncia da revista seria levada ao ar no Jornal Nacional.
Eram 19 horas. O treinador ligou do celular para o seu advogado Michel Assef. Tranqüilizado pelo advogado, desabafou:
"Querem acabar com uma carreira de 17 anos de técnico com assuntos que não têm nada que ver com o futebol. Isso é justo?", perguntava. "Que mal eu fiz por ter chegado a técnico da seleção brasileira? Quem está por trás dessas denúncias todas?
Grampo - Segundo Luxemburgo, seus telefones, celular e do apartamento em São Paulo, foram grampeados. Ele não sabe ainda por quem. Seu site na Internet estava, ontem, fora do ar. Preocupado, o técnico soltou a frase: "Será uma longa madrugada." O relógio do hotel marcava 2 horas. Os jogadores desceram para a festa? "Não, estão todos em seus quartos. Graças a Deus", suspirou.