Canberra - Os atacantes Tande e Giovane, que jogaram três anos no vôlei de praia, tiraram duas conclusões bem diferentes depois de cinco meses de treinamento com a seleção brasileira para a Olimpíada de Sydney. Tande confirmou que sua decisão de abandonar as quadras estava certa e que se despedirá oficialmente da seleção nesta competição. Giovane voltou ao vôlei indoor de vez. Areia, agora, só para o lazer.
Campeões olímpicos em Barcelona, em 1992, os dois decidiram ir para a praia em 1997. Formaram a dupla mais badalada do circuito brasileiro e chegaram até a conquistar o título de campeões nacionais. Em nível internacional, porém, a dupla não decolou. Ficou fora da Olimpíada. Por isso, os jogadores foram resgatados para a seleção brasileira, depois de difíceis negociações com os patrocinadores.
Paciência - Os cinco meses de viagens, concentração e vida em grupo mostraram a Tande que ele não tem mais paciência para suportar tudo isso. "Embora considere necessária, especialmente para os mais jovens, a concentração é massacrante", comenta Tande, de 30 anos, que sonha em disputar na praia a sua quarta Olimpíada, em 2004, em Atenas. "Na areia, sou dono do meu nariz, viajo com minha família e tenho consciência de que, se não trabalhar direito, o dinheiro não pinga na minha conta."
As dores de cabeça de Giovane são de outro tipo. Depois de constatar que "a praia não era a sua praia'', ele tem se dedicado muito para recuperar a antiga forma na quadra.
Passou por momentos muito difíceis, principalmente por ser altamente exigente com suas atuações. "Só agora, já na Austrália, estou melhorando", observa o atacante, que completou 30 anos no dia 7 e será uma das atrações do novo time de vôlei do Vasco da Gama. "Me cobro demais e estava muito incomodado."
Amizade - A experiência na praia foi válida para os dois. Mesmo com o rompimento da parceria, por iniciativa de Giovane, Tande garante não existir problemas entre os dois. Ao contrário. "Ele é um ser humano fantástico e um amigo que conquistei", diz o jogador carioca, que, desde menino, se acostumou a brincar na areia com uma bola. "A nossa amizade é muito maior agora do que na época em que estávamos na seleção."
Giovane devolve os elogios e diz ter aprendido muito nos últimos três anos, principalmente por ter sido obrigado a trabalhar também nos bastidores, em negociação de contratos.
Agora, sua concentração estava voltada exclusivamente para a sua readaptação ao vôlei de quadra. "Foi difícil pegar de volta o tempo de bola, principalmente no bloqueio", lembra. "Meus joelhos também sentiram a volta", prossegue. "Não é nada grave, mas tenho tendinite e sofro com dores constantes."
Patrocínio - Enquanto o mineiro de Juiz de Fora Giovane tem o futuro imediato acertado, Tande garante não tem nada definido, além de um patrocínio com a Zip.net. Ele diz contar com a ajuda de uma empresa, a Mack Marketing, para obter mais apoio financeiro para montar nova infra-estrutura, que inclui técnico, preparador físico, fisioterapeuta, médico, nutricionista e agente. O futuro parceiro, assegura Tande, só será acertado após a Olimpíada, quando voltar ao Brasil e conversar com a "galera".
O sonho imediato dos dois é ajudar a seleção a conseguir um lugar no pódio olímpico. Eles sentiram o "gosto maravilhoso'' de estar no degrau mais alto em Barcelona e a "terrível frustração'' de ficar em quinto lugar em Atlanta, em 1996. "Sabemos o que deu certo e o que deu errado", diz Giovane. "Vamos tentar fazer de tudo para a coisa ir bem na Austrália, sem ansiedade e com experiência", completa Tande.
O Estado de S. Paulo