Sydney - O iatista brasileiro Robert Scheidt tem um desafio adicional na sua luta pelo bicampeonato olímpico em Sydney. Não é a pressão de ter o favoritismo unânime na classe Laser. O estresse da competição, Scheidt enfrenta com folgas, saindo um pouco do ambiente da Marina de Rushcutters Bay para um passeio, mantendo a rotina como se fosse uma competição qualquer, e ouvindo música - no trajeto de 45 minutos, de ferry boat, da Vila Olímpica até o local de competições - de preferência rock e pop(Rolling Stones, U-2, Eric Clapton e Skank).
Scheidt ainda não sabe como vai enfrentar a oscilação do vento, que tem rondado em todas as direções na baia onde estão as raias olímpicas, e surpreende todos os velejadores. Ele Promete "colocar o coração na água." Apesar da insegurança quanto ao vento, o tetracampeão mundial Scheidt, de 27 anos, tem sua estratégia traçada, juntamente com o técnico Cláudio Bieckarck. Em uma Olimpíada o perigo, segundo afirmou "é acordar com o pé esquerdo e perder um trabalho de quatro anos".
Por isso, Scheidt vai trabalhar pela regularidade. Buscar resultados bons na maioria das 11 regatas, a partir do dia 22. Acha que nenhum dos seus principais rivais - o inglês Ben Aisnlie, o australiano Michael Blackburn, o holandês Serge Katz e o sueco Karl Suneson - levam vantagem.
Ele observa que todos pesam entre 78 e 82 quilos (o seu peso é 79) e "andam bem" em qualquer vento. O importante será largar bem nos 100 metros iniciais da prova. Aí, segundo Scheidt está 80% do sucesso da regata. "O velejador pega vento limpo e isso é muito importante", explica.
Os iatistas, que contam com a ajuda adicional do metereologista canadense, que mora na Nova Zelândia, Doug Charko (assessorou o barco da equipe italiana Prada, de Torben Grael, na America´s Cup), contratado pelos brasileiros, enfrentaram três frentes frias seguidas desde que chegaram à Sydney, no dia 3, com ventos que chegaram ao pico de 47 nós, mas têm soprado entre 20 e 25 nós nos últimos dias, ainda forte.
O iatista explicou que esteve em Sydney no mês de setembro, em 1998 e em 1999, e a situação de ventos era diferente. "Sabia que iríamos encarar ventos oscilantes, mudança de correnteza, três raias diferente nas 11 regatas, mas estamos surpresos com a intensidade dos ventos."
Scheidt, que defende o título de campeão olímpico obtido em Atlanta, em 1996, gosta de ventos fortes. Mas acentua que em Sydney as condições têm sido de ventos oscilantes, além de muito fortes, o que dificulta muito a regata.
"O difícil é estar navegando a 15 nós e sofrer uma rajada de um vento de 30, 35 nós batendo na cara, de repente."
Cristoph Bergman, que participa de sua quarta olimpíada, a terceira pela classe Finn, acredita que "todos estão espantados com as inesperadas condições climáticas".
Mas pessoalmente Cristoph tem um desafio maior que superar os ventos oscilantes. O iatista quer apagar o que aconteceu em Atlanta, quando bateu em um banco de areia velejando contra o sol e quebrou a embarcação no meio da prova. "Aqui não tem banco de areia e lá os barcos eram ruins, cedidos pela organização - metade da flotilha tinha rachadura no pé do mastro", justificou.
Desta vez, o inglês trouxe para uma barco alugado na Europa. Diferente da Laser, o equipamento não é padrão, mas sim escolhido pelos próprios competidores, o que torna a variação do vento um problema ainda mais particular.
"Não espero surpresa quanto ao barco, mas não sei como será com os mastros, de fibra de carbono, construídos no limite - com a variação da intensidade de ventos podem haver quebras", comentou.
Outra que quer obter o melhor resultado de sua carreira, em Sydney, em três participações olímpicas é Cristina Mattoso, da Prancha à Vela. A atleta quebrou o pé em Atlanta.