Sydney - Uma reunião de 45 minutos entre o técnico Jayme Netto Júnior e os seis integrantes da equipe de revezamento de atletismo e uma conversa particular entre os velocistas Claudinei Quirino e André Domingos, que terminou com um longo abraço, podem ter terminado, nesta sexta-feira, com o princípio de crise de relacionamento no grupo. O encontro ocorreu na pista de aquecimento de Homebush Bay, bem ao lado do Estádio Olímpico, onde o torneio será disputado.
O treinador dos velocistas garantiu que a situação "está sob controle absoluto". Ele disse que as declarações sobre desentendimentos no grupo foram provocadas pelo estresse pré-competição, agravado pelo frio e vento que atrapalharam o período de aclimatação da equipe em Canberra. "Eles estão vivendo um momento de tensão, convivendo com cobranças internas e externas, que acabam causando desentendimentos normais", assegura o treinador, adepto da dinâmica de grupo. "As indisposições, que vinham contidas durante toda uma temporada de treinos, viagens e competições, afloraram em Canberra pela péssimas condições de clima." Depois da reunião com Vicente Lenílson, Raphael de Oliveira, Cláudio Roberto de Souza, Édson Luciano Ribeiro, Claudinei Quirino e André Domingos, Jayme pediu que os atletas com diferenças pessoais se entendam pelo bem do grupo e deles mesmo.
Por isso, Claudinei e André ficaram conversando mais tempo e nem treinaram. Fizeram apenas alongamento, passaram depois pela fisioterapia e seguiram juntos para a cerimônia de abertura.
"O Claudinei e o André buscam o mesmo sonho de lutar por medalhas numa prova individual, os 200 metros rasos, e são os principais atletas do revezamento 4 x 100 metros, que também têm chances de brigar por um lugar no pódio", comenta o treinador, que também não esconde seu nervosismo e admite que tem tomado antidepressivos. "É difícil manter o equilíbrio."
Na reunião, Jayme Netto Júnior, professor de Educação Física e Fisioterapia na Unesp de Presidente Prudente, fez uma análise técnica também do comportamento do revezamento. "O potencial do grupo é fantástico e, com mais um pouco de treino, poderemos melhorar bastante", diz o técnico, que mudou a formação do time após a quebra do recorde sul-americano, no ano passado, no Mundial de Sevilha, com o tempo de 38s05.
"Vi que as chances de evolução eram pequenas e, por isso, resolvi mudar para criar uma situação de motivação." As principais mudanças foram a entrada de Vicente Lenílson no lugar de Raphael de Oliveira na abertura da prova e a troca de posição entre André e Claudinei, que passou a fechar a corrida.
Crises de relacionamento não são raridade no atletismo, em particular, nem no esporte, em geral. Na preparação para a Olimpíada de Atlanta, em 1996, feita em La Grange, Sanderlei Parrela e Zequinha Barbosa, então companheiros de treinamento, brigaram aos tapas.
Na Olimpíada de Los Angeles, em 1984, o clima entre os jogadores da seleção masculina de vôlei era tão ruim, que nem a realização de uma reunião de oito horas na véspera da final impediu que o time jogasse mal e perdesse a medalha de ouro para os Estados Unidos.